A reportagem de Bruno Hoffmann, publicada no Almanaque Brasil em 27 de novembro de 2017, conta a história do missionário americano Daniel Everett, que em 1977 escapou da morte na Amazônia graças à sua habilidade com línguas. Catequizando os pirahãs, percebeu que tramavam contra ele e conseguiu se proteger com a família. Apesar do susto, permaneceu na aldeia, fascinado pelo idioma local.
Everett viveu 25 anos na selva estudando a língua pirahã, considerada a mais enxuta já conhecida. Sem números, nomes para cores ou tempos verbais, ela desafia conceitos fundamentais da comunicação humana. Em 2008, ele lançou Don’t Sleep, There Are Snakes, livro que sacudiu o mundo da linguística ao questionar teorias de Noam Chomsky.
Sua missão, no entanto, fracassou. Incapaz de traduzir a Bíblia, foi ele quem acabou convertido pelos pirahãs. “Eles nunca se interessaram por esse Deus do qual eu falava, e percebi que intelectualmente já não podia mais sustentar essa crença.” Para os pirahãs, passado e futuro não fazem sentido: “Tudo é o mesmo, as coisas sempre são.”