Entre as veredas e matas densas próximas ao Rio Cuiabá, corre uma lenda temida entre os habitantes do campo: a do Tibarané, um pequeno passarinho encantado, cuja presença anuncia desgraças — e por vezes, a própria morte.
Conta-se que, há muito tempo, vivia uma anciã indígena, conhecida por vaguear pelas florestas, perturbando a vida dos que ali moravam. Segundo a tradição, ao amanhecer, ela saía pelos caminhos de terra batida e batia de porta em porta, pedindo um pouco de fumo.
Se o pedido era atendido, a velha apenas agradecia com um sorriso silencioso e desaparecia entre as árvores. Mas se alguém recusava ou dizia não ter fumo, o semblante da anciã tornava-se sombrio. Ela virava costas e sumia na mata — mas, à noite, regressava transformada.
Na escuridão, um pequeno pássaro pousava sobre a cumeeira da casa de quem a negara. O seu canto era agudo, quase sobrenatural. E segundo os antigos, quando o Tibarané canta, a morte não tarda a bater à porta daquela casa.
Nas roças antigas próximas ao Rio Cuiabá, os mais velhos ainda murmuram com respeito e receio: “Quando ouvires o piado do Tibarané, reza… e reza depressa.”
Outra versão da lenda fala de um homem — andrajoso, de olhos fundos e fala pausada — que, ao anoitecer, assume a forma da ave encantada. Quem necessitar de ajuda, um favor ou algum bem, deve esperar pelo canto do Tibarané e, com fé, fazer-lhe um pedido, prometendo em troca comida, bebida ou fumo.
Se o pedido for aceito, diz-se que, dias depois, um estranho baterá à porta da casa. É o Tibarané, agora em forma humana, vindo cobrar o prometido. Recusar o pagamento é arriscar-se a sofrer as consequências do encantamento.
Entre mito e aviso, o Tibarané continua a habitar o imaginário popular — como pássaro, espírito ou sombra, que guarda entre as penas o poder de abençoar ou amaldiçoar.