Ah! Uuum: Expressão cuiabana da repulsa
Uma expressão multifacetada, cuja interpretação depende inteiramente da situação e da entonação empregada ao pronunciá-la. Ela pode transmitir diferentes emoções, como repulsa, desaprovação ou indignação, sempre dependendo do tom de voz. Veja um exemplo: “Ah! Uuum… Pára com isso.” A expressão escapou com um suspiro exasperado, como se as palavras fossem insuficientes para expressar a repulsa e a frustração diante de uma situação que já ultrapassava os limites da paciência.
Quem bedjô, bedjô, quem não bedjô, não bedja mais!
Uma expressão popular, impregnada de um tom irreverente e definitivo. “Bejô” (variação descontraída de “beijo”) remete a um momento de despedida ou encerramento, e toda a frase carrega a ideia de que, após certo ponto, o que foi vivido não volta mais. Quem aproveitou, aproveitou; quem não aproveitou, perdeu a chance. Em essência, é uma forma bem humorada e predominantemente melodramática de decretar o fim de uma situação ou oportunidade. Exemplo: “Acabou o baile, quem bejô, bejô; quem não bejô, não beja mais!” A expressão soava como o último acorde de uma música, marcando o fim de uma dança que já não poderia ser retomada. Para aqueles que não conseguiram trocar um único beijo, era o convite à reflexão sobre o que ficou para trás – uma oportunidade perdida que jamais retornaria. Mas, para os que se entregaram àqueles momentos de prazer, a frase também ressoava como um tributo ao que foi vivido intensamente até aquele ponto.
“Até na orêia”: Um termo de excessos
A expressão cuiabaníssima “Até na orêia” é utilizada para ilustrar momentos de exagero absoluto, quando algo é vívido, consumido ou experimentado em tamanha abundância que ultrapassa qualquer limite razoável, evocando uma sensação de excesso quase palpável, e muitas vezes, cômica. Como exemplo, veja este retrato: “Zé Bolo Flô, célebre por sua paixão insaciável pelos irresistíveis quitutes da Casa de Bem-Bem, entrega-se com tanta gula ao banquete que, ao final da comilança, parecia não haver mais espaço nem para o mais leve suspiro”. Seu estado estava tão empanturrado que dava a impressão de que a fartura se apoderava de seu corpo, subindo pelas orêias como se seu olhar não tivesse mais fim.
Coloiado: djuntos no djeito cuiabano de falar
Coloiado(a) é uma expressão típica do linguajar cuiabano que vai além de simplesmente significar “junto” ou “próximo”. Ela carrega um sentido de proximidade íntima, quase inseparável, seja no aspecto físico, seja no laço de afinidade ou parceria. No contexto cultural de Cuiabá, coloiado representa aquele estar lado a lado com alguém, seja para compartilhar momentos de camaradagem, planejar juntos ou simplesmente estar junto de forma natural e espontânea. Quando se diz que “Os soldados do quartel estão coloiados com Maria Taquara”, não é apenas a ideia de estarem próximos; há um subtexto de companheirismo, cumplicidade e, muitas vezes, uma colaboração mútua. É como se a expressão marcasse a união com uma pitada de coloquialismo afetivo, algo que só o calor cuiabano sabe inspirar. Coloiado é estar junto com propósito, seja ele explícito ou implícito, mas sempre com uma boa dose de pertencimento e afeto. Mais do que uma palavra, coloiado reflete um espírito coletivo, uma essência de convivência tão cara à identidade cuiabana. É a manifestação linguística de um valor profundamente humano: a proximidade calorosa que cria e fortalece laços, transformando o simples ato de estar junto em uma celebração da amizade e da comunidade.
Digoreste: O excepcional no linguajar cuiabano

Digoreste é um adjetivo impregnado da alma e do sotaque cuiabano, usado para exaltar algo ou alguém de excelência indiscutível. Não é apenas “ótimo” ou “bom”; é um termo que carrega a força do orgulho regional, um elogio caloroso e sincero, como o abraço de quem vive sob o sol de 40 graus cuiabano. Digoreste vai além do comum. Quando se diz que “o guri é digoreste pra pegá manga”, não se fala apenas de habilidade, mas de um domínio quase artístico, uma maestria que beira o espetacular. É um reconhecimento popular e afetuoso, que traduz o que há de melhor em pessoas, situações ou objetos. Seu uso é versátil: pode-se dizer que uma comida típica, como a mojica de pintado, é digoreste; que um pôr do sol refletido no Rio Cuiabá é digoreste; ou mesmo que alguém que dança o cururu e o siriri com paixão e talento é, sem dúvida, digoreste. O termo sintetiza a vivacidade e a singularidade de um modo de falar que é, por si só, um patrimônio cultural. Em essência, ser digoreste é ser excepcional à luz dos olhos cuiabanos, com a força de quem vive a tradição com a alma ‘tcheia‘ de história.
Edgard Telles Ribeiro: conheça o novo imortal da ABL

Edgard Telles Ribeiro, escritor e diplomata, foi eleito para a Cadeira 27 da Academia Brasileira de Letras com 28 dos 39 votos possíveis. Natural de Valparaíso, no Chile, e naturalizado brasileiro, é autor de 15 livros, incluindo o finalista do Prêmio Jabuti, Jogo de Armar (2023), e premiado com Olho de Rei (2006) e O Punho e a Renda (2015). Com uma longa trajetória na diplomacia cultural, chefiou o departamento cultural do Itamaraty entre 2002 e 2005, além de atuar como professor de cinema na Universidade de Brasília (UnB) e estudar cinema na UCLA. A Cadeira 27, anteriormente ocupada pelo poeta Antonio Cicero, já foi de figuras como Joaquim Nabuco e Eduardo Portella. Entre os concorrentes à vaga, Tom Farias foi o segundo mais votado, com seis votos. Segundo o presidente da ABL, Merval Pereira, a experiência literária e cultural de Telles Ribeiro será um grande aporte para a Academia.
Dólar dispara

Apesar de intervenções do Banco Central (BC), o dólar fechou em alta, atingindo R$ 6,094 (+0,99%), maior valor nominal desde a criação do real. A bolsa de valores também caiu 0,84%, encerrando aos 123.560 pontos, o menor nível desde junho. Logo após a abertura do mercado, o BC vendeu US$ 1,6 bilhão das reservas internacionais e outros US$ 3 bilhões em operações com recompra, mas a moeda americana seguiu em alta. Fatores internos e externos influenciaram os mercados. No Brasil, a votação do pacote de corte de gastos gerou expectativas, enquanto o governo liberou R$ 7 bilhões em emendas para viabilizar o avanço da proposta. Externamente, o mercado monitora a reunião do Federal Reserve sobre os juros nos EUA e declarações de Donald Trump sobre sobretaxas a produtos brasileiros, que aumentaram a pressão sobre o câmbio. (com AB)
“Vôooote!”, descubra o significado deste emblemático termo cuiabano

Entre as inúmeras expressões tradicionais que ainda vibram com intensidade na fala dos cuiabanos de “tchapa e cruz”, uma se destaca com brilho singular: o emblemático e carregado de significado “vôte!”. Esta exclamação, quase um brado da alma, emerge com espontaneidade para expressar repulsa, aversão ou até mesmo um espanto desmedido. Em situações inesperadas ou desconcertantes, é comum ouvir algo como: “Vôôôte! Deus me livre desse sujeito com cara de capeta!” – uma frase que, com seu tom dramático, encapsula o humor, o susto e a vivacidade tão características da cultura cuiabana. Basta um momento de surpresa ou desagrado, e lá vem o costumeiro “vôôôôôôte!”, acompanhado daquele eco arrastado, quase teatral, que lhe confere ainda mais intensidade e personalidade.