segunda-feira, 17 de fevereiro de 2025
Cuiabanômetro

O polêmico mineiro que derrubou a Igreja Matriz

A chegada do bispo mineiro Dom Orlando Chaves à cidade de Cuiabá, em dezembro de 1956, marcou o início de uma era de grandes transformações, mas também de episódios controversos que permaneceriam como feridas abertas na memória coletiva. Escolhido para dirigir a Arquidiocese de Cuiabá enquanto ainda estava em Corumbá, Dom Orlando logo se tornou uma figura central na história religiosa e cultural da capital mato-grossense.

Entretanto, foi no fatídico dia 14 de agosto de 1968 que seu nome ficaria para sempre associado a um dos eventos mais polêmicos da cidade: a demolição da centenária Igreja Matriz de Cuiabá. A justificativa oficial para a destruição do edifício, que remontava ao período colonial, foi a necessidade de modernização e a existência de rachaduras que comprometiam sua estrutura. Contudo, o uso de três cargas de dinamite para derrubar as imponentes torres gerou perplexidade e levantou suspeitas que persistem até hoje.

Naquele dia, os cuiabanos assistiram, estarrecidos, ao estrondo das explosões que ecoaram pelas ruas da cidade, simbolizando não apenas a queda de um templo, mas também a ruptura com uma parte significativa de sua história. Muitos questionaram a real necessidade de uma medida tão drástica: se as paredes estavam condenadas, por que tanta força foi necessária para derrubá-las? Teria algo valioso escondido sob os alicerces da igreja?

Os relatos sobre os bastidores desse episódio são conflitantes. Enquanto alguns afirmam que houve resistência popular contra a decisão, outros apontam que Dom Orlando contou com o apoio de figuras influentes, cujos interesses podem ter contribuído para o desenlace. As vozes de protesto, abafadas pelo peso do poder eclesiástico e político da época, ecoam até hoje nos murmúrios daqueles que vivenciaram a tragédia.

A Igreja Matriz, mais do que uma construção, era um símbolo da identidade cuiabana, testemunha de gerações que ali celebraram suas alegrias, derramaram suas lágrimas e encontraram conforto espiritual. Sua destruição, embora justificada sob o manto da modernidade, deixou uma lacuna que nenhuma obra arquitetônica posterior conseguiu preencher.

Os mistérios que envolvem a demolição ainda geram debates e especulações, perpetuando a sensação de perda e desamparo. Para quem viveu aquela época, o estrondo das dinamites não foi apenas um som físico, mas um grito de luto pela história de uma cidade que, perplexa, viu parte de sua alma ser reduzida a escombros.

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