Com sua irreverência ao vestir e uma língua afiada, Jejé de Oyá se tornou uma das figuras mais icônicas de Cuiabá. Batizado José Jacinto Siqueira de Arruda, foi sob o nome Jejé que conquistou seu lugar no imaginário cuiabano. Nascido em Rosário Oeste, mudou-se ainda menino para a capital e cresceu no tradicional bairro da Boa Morte, onde foi acolhido por uma família respeitada.
Estudou alfaiataria na Escola Profissional Salesiana, hoje Colégio São Gonçalo, e, por um tempo, cogitou a vocação religiosa. Porém, a vida tinha outros planos para ele. Negro, pobre e homossexual em uma sociedade conservadora, Jejé enfrentou com destemor o preconceito. Frequentador dos animados bailes e celebrações dos clubes da capital, ele experienciou tanto o brilho das festas quanto a crueldade da discriminação. Revoltado com a hipocrisia que testemunhava, Jejé transformou suas experiências em palavras, escrevendo sobre a sociedade cuiabana com um tom ácido e provocador. Sua coluna era uma crônica feroz e bem-humorada da vida social e política, onde ele não poupava ninguém.
Carnavalesco de coração e figura central do colunismo social de Cuiabá, Jejé de Oyá foi um patrono da ousadia e da liberdade de expressão. Quando faleceu, em 11 de janeiro de 2016, aos 81 anos, deixou não apenas um legado de resistência, mas também um retrato autêntico e indomável da Cuiabá que ele tanto amava e desafiava.