A história das comunicações em Cuiabá tem seu marco inicial na inventividade de Deodato Gomes Monteiro, um entusiasta autodidata da eletrônica que desafiou os limites tecnológicos de sua época. Em uma casa modesta, situada na então Rua de Cima (atual Pedro Celestino), vizinha ao casarão de dona Filinha Serejo e com vista para o Beco Alto, nasceu a primeira transmissão de rádio da cidade, fruto do engenho e criatividade de Deodato.
Filho de João Gomes Monteiro Sobrinho, um respeitado comerciante cuiabano, Deodato cresceu em um ambiente de recursos limitados, mas com acesso à curiosidade e determinação. Seu pioneirismo em divulgar notícias por meio de equipamentos rudimentares logo lhe rendeu o apelido de “O Boateiro”. Inicialmente, suas mensagens eram transmitidas por receptores improvisados e pelo rádio-telégrafo, até que ele conseguiu montar um radiotransmissor sem fio, algo que muitos à época consideraram quase um ato de feitiçaria.
O ápice de sua contribuição aconteceu no dia 18 de fevereiro de 1934, quando, em uma sala do Palácio da Instrução, fez operar a Rádio Sociedade de Cuyabá. A estação, de caráter experimental, transmitia em ondas curtas de 32 metros e tinha uma diretoria composta por nomes proeminentes da cidade, como José Barnabé de Mesquita, João Ponce de Arruda, Philogônio de Paula Correa e Manoel Miraglia. Embora temporária, a rádio marcou o início da era da comunicação radiofônica na capital mato-grossense.
Deodato não apenas abriu os caminhos para o rádio em Cuiabá, mas também tornou-se uma figura emblemática de sua época, lembrado por sua ousadia e engenho. Seus equipamentos originais, símbolos de um tempo em que a tecnologia se confundia com magia, encontram-se hoje preservados no Museu da Imagem e do Som de Cuiabá (Misc), perpetuando o legado do homem que deu voz à cidade em um tempo de silêncio tecnológico.