O carnaval cuiabano

O Carnaval, segundo Gabriela Cabral é uma festa que se originou na Grécia em meados dos anos 600 a 520 a.C. Por meio dessa festa, os gregos realizavam seus cultos em agradecimento aos deuses pela fertilidade do solo e pela produção. Posteriormente, os gregos e romanos inseriram bebidas e práticas sexuais na festa, tornando-a intolerável aos olhos da Igreja católica, o que ocorreu de fato em 590 d.C.

A partir da adoção do carnaval, por parte da igreja, a festa passou a ser comemorada por meio de cultos oficiais, o que bania os atos pecaminosos. Tal modificação foi fortemente espantosa aos olhos do povo, uma vez que fugia das reais origens da festa, como o festejo pela alegria e pelas conquistas. Em 1545, durante o Concilio de Trento, o carnaval voltou a ser uma festa popular. Em aproximadamente 1.723, o carnaval chegou ao Brasil sob influência europeia. Ocorria por meio de desfiles de pessoas fantasiadas e mascaradas. Somente no século XIX que os blocos carnavalescos surgiram com carros decorados e pessoas fantasiadas de forma semelhante à de hoje.

CARNAVAL EM CUIABA´- Em épocas passadas, quando Cuiabá era uma cidade distante de outros centros, seus habitantes não se deram por vencidos. Além de jornais, revistas, periódicos, clubes e teatros, também criaram o seu carnaval. Aqueles três dias antes da quarta-feira de cinzas faziam a cidade se transformar numa folia só, numa alegria só, onde tudo era produzido aqui mesmo e os estilistas e coreógrafos inventavam fantasias inspiradas nos índios, na fauna, na flora, nas crenças, no cerrado, no folclore e tradições cuiabanas. Assim, do interior das salas de cultura, dos clubes literários, a sociedade passou a admirar a multidão nas ruas desfilando, pulando, cantando o carnaval, cujas letras e músicas eram criadas pelos próprios foliões, intercaladas com as importadas do carnaval carioca.

Nas memórias de Celso Cardoso ficaram algumas melodias cujas letras diziam assim: “Quer tocar, toca; não quer, não toca/ Não sou de lero lero, nem tampouco de potoca/ Dois mais dois, quatro; três mais três, seis/ Arroz de festa quer tocar mais uma vez” . Outra era: “Bebo, bebo, bebo, bebo./ Com dinheiro ou sem dinheiro/ E convido toda turma/ Pra beber no Bar Pinheiro”. O Corso fazia parte das exibições, da folia, e as famílias abastadas, a nata da sociedade, desfilavam seus carros de capota arriada, mas todos se divertiam diante do animado cortejo teve seu auge. Na ocasião, foliões se organizam e elaboravam figurinos que seguiam o mesmo tema.

As fantasias se destacavam pela originalidade e pelo capricho com que eram feitas. Durante o percurso, “batalhas de confete e serpentina” envolviam os participantes e os espectadores. Devido à falta de combustível provocada pela 2ª Guerra Mundial, os automóveis foram substituídos por veículos de tração animal, carroças puxadas por burros e cavalos, também ricamente enfeitados para o desfile.

Na classe menos privilegiada, o povo se organizava em grupos e reunidos em alas, desfilava em blocos, cordões e escola de samba, ao som de apitos dos “índios”, gritos dos “mascarados”, da bateria dos “marinheiros”, dos que se vestiam de “mulher, com direito a sutiã que moldava seios enormes, batom, peruca, muita purpurina, liga, saia e salto alto, rodando a bolsinha em plena avenida”.

Muitos clubes nasceram na época do carnaval e alugavam seus salões para o entrudo. Outros faziam a sua própria festa: Tronco da Amendoeira, Bola de Ouro, Curral do Bode, Estudantil, Lira, Associação Bancária, Grêmio Recreativo Antônio João, Feminino, Náutico, Dom Bosco, Sayonara, Balneário Santa Rosa, foram alguns clubes que realizavam o carnaval. O salão do Grande Hotel também teve sua época de glória carnavalesca. O baile do Pindu pegava fogo. Alguns blocos “Mascarados”, “Bloco dos Sujos”, “Garimpeiros”, “Urubu Cheiroso”, “Beleza Pura”, marcaram presença nas batalhas de confete da Avenida Ponce de Arruda, desfilando com galhardia.

Os Cordões “Estrela Dalva”, “sempre Vivinha”, “Rosa da Fonte”, saíam dos bairros para a Avenida Getúlio Vargas, sob os aplausos da assistência impulsionada pela beleza do espetáculo.

As Escolas de Samba “Deixa Cair”, “Pega no meu coração”, “Pedroca”, “Estrela do Oriente”, “Batutas do Porto”, “Marinheiros do Samba”, Mocidade Independente”, “Ocasa”, “Unidos do Coxipó”, com suas rainhas, princesas e carros alegóricos davam um colorido todo especial naqueles dias de carnaval. Na oportunidade, o Rei Momo recebia a chave da cidade, abrindo o desfile pagão, onde cada bateria tinha a sua batida, cada bateria tinha o seu tom.

Com a chegada do “Trio Elétrico” o carnaval mudou. O trio tirou partido e aquelas músicas de carnaval, velhas conhecidas de todos nós, foram caladas. Ao Zé Maria, Nhozinho, Jaime, Pacheco, Camargo, Tereza, Nelsinho, Batista Jaudy, Abílio Airton e tantos outros carnavalescos de antigamente.

Nos anos 60, os desfiles e os bailes foram ganhando espaço e o corso ficou apenas na memória. Atualmente, os carnavais são realizados nos interiores dos clubes cuiabanos, nos municípios vizinhos e, em ruas de Cuiabá programadas pela prefeitura local e, blocos carvalescos como o Tradição, do bairro Araés; Boca Suja e Ensopadão, Banana da Terra, Casa Nova, Unidos do Porto e a escola de samba Império da Casa Nova.

Os atuais blocos cuiabanos são: Semente do Amanhã, Vai Vai do Cai Cai, Melados, Unidos do Porto, Vai quem quer e Tão Seco, Boca Suja, Tradição do Araés, Banana da Terra e Império de Casa, entre outros.

Almanaque

Almanaque

O Almanaque Cuyabá é um verdadeiro armazém da memória cuiabana, capaz de promover uma viagem pela história em temas como música, artes, literatura, dramaturgia, fatos inusitados e curiosidades de Mato Grosso. Marcam presença as personalidades que moldaram a cara da cultura local.