A história do atual município de Corumbá, situado em posição estratégica no rio Paraguai, remonta às primeiras décadas do século XVI, quando o português Aleixo Garcia, em 1524, explorou a região em busca de ouro. Contudo, sua ocupação efetiva e organização estratégica só se consolidaram no século XVIII, sob os esforços do governador e Capitão-General da Capitania de Mato Grosso, Luiz Albuquerque de Mello Pereira e Cáceres, que implantou pontos militares para defender o território contra incursões espanholas, reforçando o domínio português na fronteira oeste do Império.
A Expansão Econômica e o Papel da Navegação
Com o estabelecimento, em 1856, do livre trânsito de embarcações brasileiras e estrangeiras no rio Paraguai, o porto de Corumbá tornou-se essencial ao comércio regional. A localização geográfica privilegiada conferiu-lhe o status de polo econômico, rompendo o isolamento secular e conectando a região ao restante do Império.
Em 1859, o povoado foi transferido para o local onde hoje se ergue a cidade. Dois anos depois, em 1861, uma alfândega foi instalada no porto para regulamentar o comércio, e, em 1862, o povoado foi elevado à categoria de vila. Ruas amplas começaram a ser traçadas, e o comércio floresceu, marcando o início de um período de prosperidade.
Contudo, o progresso trouxe desafios: a infraestrutura urbana era precária, o transporte de mercadorias enfrentava dificuldades, e a ausência de saneamento básico agravava as epidemias. Barcos provenientes de diversos países atracavam no porto, mas a falta de controle sanitário contribuiu para a disseminação de doenças, afetando gravemente a população.
Crises e Contradições Sociais
Paralelamente ao crescimento econômico, as enchentes periódicas do rio Paraguai, somadas às crises políticas e à violência cotidiana, tornaram a vida difícil. A estrutura social apresentava uma marcante dualidade: de um lado, um pequeno grupo que monopolizava o comércio e detinha o poder econômico; de outro, a maioria da população vivia em condições de extrema precariedade. Os povos indígenas, integrados à força ao sistema econômico, ocupavam a base dessa estrutura como mão de obra barata nos portos.
A Devastação na Guerra do Paraguai
O apogeu de Corumbá foi interrompido pela Guerra do Paraguai (1864–1869), quando tropas de Solano López invadiram e destruíram a cidade em 1865. A ocupação paraguaia desarticulou o comércio, interrompeu a navegação no rio Paraguai e reduziu a cidade a ruínas. Casas e depósitos foram saqueados, a infraestrutura devastada, e a população, diminuída e empobrecida, enfrentou privações severas.
A Retomada e a Reconstrução
A libertação de Corumbá ocorreu em 13 de junho de 1867, quando uma tropa liderada pelo tenente-coronel Antônio Maria Coelho, partindo de Cuiabá, conseguiu retomar a cidade. A vitória marcou o início de um esforço árduo de reconstrução. Navegação e comércio foram gradualmente restabelecidos, e os núcleos urbanos devastados começaram a ser reorganizados.
Origens Coloniais e Legado Histórico
As raízes de Corumbá remontam ainda a 1778, quando o vilarejo de Nossa Senhora da Conceição de Albuquerque foi fundado em função das disputas territoriais entre portugueses e espanhóis. Desde então, a cidade desenvolveu-se em íntima relação com o rio Paraguai, que, além de cenário de sua história, permanece como testemunha das lutas e conquistas que moldaram a região.
Fotografia histórica: Em destaque, uma vista panorâmica do Rio Paraguai e da cidade de Corumbá na década de 1950, retratando a resiliência de um povo que soube renascer das adversidades para construir um futuro próspero e dinâmico. (com Elizabeth Madureira Siqueira)