São João e a Água

O mês de junho se foi, mas as festas juninas ainda continuam em nossa cidade e em nossa memória. A alegria dos festejos de São João se confunde com a hospitalidade do nosso povo. Passear pelo centro histórico de Cuiabá neste período é a mesma coisa que relembrar as grandes festas de São João que aconteciam no espaço urbano da cidade.

Por lá as festas juninas sempre aconteciam com muita frequência. A lavação do santo consistia em colocar os pés dele sob a água e daí para frente tudo era alegria. Banda de música, noiva no carro de boi, quadrilha, quentão, bolo de arroz, amendoim e muita animação.

Havia três opções para a lavação do santo na Cuiabá de outrora: O Chafariz do Jardim Alencastro, a Bica da Prainha e o Tanque do Baú. Porém, havia os que preferiam atingir o rio Cuiabá, como o São João de D. Carlota Ferreira Ponce, moradora da encosta da igreja Bom Despacho. O São João mais famoso era o de Siá Blandina que era lavado na Bica da Prainha. A rua ficava pontilhada de fogueiras e as estrelas saltitavam no céu, como se quisessem cair por sobre o córrego da Prainha, hoje canalizado. Nas margens do córrego ficavam a emoldurar a festa de São João seu Tingo, Portela, Clóvis Sabo, Manoel de Horácio, Firmo Fontes e outros, como diz a famosa poetisa Dunga Rodrigues em suas memórias.

O povo vinha de todo lugar para procurar a Bica d´água e as suas festas hoje, criminosamente, destruídas para dar lugar à urbanização da cidade sem planejamento, como era antigamente. Quantas cidades brasileiras enfeitam as ruas e praças com essas bicas e esses chafarizes? Por que Cuiabá não faz o mesmo? Segundo o historiador Lenine de Campos Póvoas, o lugar ainda chora pelo seu resgate, pela sua reconstituição, pois permanece sempre úmido e frio com filetes de água a chorar.

No bairro Lixeira, o São João de seu Bento – um pedreiro e o seu irmão Honório, era lavado no Tanque do Baú (proximidades do Hospital Fémina), lugar onde hoje se encontra localizada uma escola municipal desativada, via aquática soterrada pelos prédios e pelas insensibilidades.

Lá pelos lados da igreja do Rosário, o São João de Nhá Tuta e João Romão, as festas de Merenciana, de Maximiana, Eulália, de Joana, e Shá Nhana, deixaram eternas saudades e se perderam no tempo e no espaço.

Pelas bandas da Igreja Mãe dos Homens, o São João do Seu Gurgel ia do Bosque (Praça Santos Dumont) até o Jardim Alencastro para a lavação do Santo no Chafariz do Jardim e o povo numa procissão festiva com velas acessas caminhava calmamente, sem ter medo da violência, do assalto ou da velocidade dos veículos.

Hoje muitos guardam essa tradição em suas casas, chácaras, sítios, escolas e alguns bairros antigos de Cuiabá.

Almanaque

Almanaque

O Almanaque Cuyabá é um verdadeiro armazém da memória cuiabana, capaz de promover uma viagem pela história em temas como música, artes, literatura, dramaturgia, fatos inusitados e curiosidades de Mato Grosso. Marcam presença as personalidades que moldaram a cara da cultura local.