por EMANUEL

Re-cordis

Leitor(a), sabemos da dor de se lançar! De não permanecer no cais e querer o horizonte, de não ficar celebrando a tristeza e querer o céu, de não se estagnar na alegria e querer a curva do rio. Temos “pressa” de viver.

Não pode ser uma ilusão fantástica o que nos faz levantar cedo e seguir. Lançarmo-nos de corpo inteiro no dia a dia. Insistir que vale a pena viver, mesmo diante da ruína e da morte – esta tão pouco compreendida por nós, que nos julgamos eternos corriqueiramente.

Não quero mais só o que a cabeça pensa, quero o que o corpo inteiro sente.

Já se festejou muito a razão, a luz intelectual, o pensamento, o cérebro – não só de pão vive o homem. Essa superfície tentou encobrir por muito tempo a voz do coração, a qual vive secretamente, como rios subterrâneos ou aéreos, e continua a molhar, regar e a umedecer nossos olhos. O coração é lugar de signos indecifráveis que engolem juízos e o que pode ser explicado. Não é paragem do controle do laboratório, estudo objetivo ou planejamento estratégico. Seu contexto é distante e divergente. Está cheio de ocultos caminhos. “Se o senhor, sabe; não sabendo, não me entenderá”.

Embora não alcance o nível da visibilidade – o que é visível consome várias realidades –, a voz do coração é chama. “Um fogo queimou dentro de mim/ que não tem mais jeito de se apagar/ mesmo com toda água do mar/ preciso aprender os mistérios do fogo/pra te incendiar.” 

Meu texto me trouxe onde ele não habita. Aqui o visível é que dita. Números. Protocolos. Plásticas. Maquiagens. Discursos. Razão. Poder. Dinheiro. O coração não manda e sente o doer. Ora! O coração foi feito para doer, leitor amoroso! Quiçá é aí que ele pega mais fogo! 

A razão, embora seja apontada como ligada ao cérebro, não consiste apenas nele. Este texto é para juntar a razão e o coração, estes pedaços separados por vontades escusas. É para tecer, pela urdidura e trama da vida, os fios que estão separados, mas são fios do mesmo tecido. Essa vida “civilizada” e “globalizada” gosta de esquartejar a gente.

Já que não deixam o seu coração mandar, leitor(a) lutador(a), se recorde, lembra dele na sua vida. Recordar é do latim re-cordis, quer dizer voltar a passar pelo coração.

* Emanuel Filartiga é promotor de Justiça em Mato Grosso.

Fonte: Ministério Público MT – MT

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O Almanaque Cuyabá é um verdadeiro armazém da memória cuiabana, capaz de promover uma viagem pela história em temas como música, artes, literatura, dramaturgia, fatos inusitados e curiosidades de Mato Grosso. Marcam presença as personalidades que moldaram a cara da cultura local.

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