Autismo não tem cara e conhecimento é fundamental, alertam entrevistadas

Leilah Moreno, atriz e cantora brasileira, indicada duas vezes ao Grammy Latino, diagnosticada com Transtorno do Espectro Autista (TEA) aos 25 anos de idade. Sasenazy Soares Rocha Daufenbach, promotora de Justiça do Ministério Público do Estado de Mato Grosso, mãe atípica do João, de 16 anos, diagnosticado com TEA aos quatro anos de idade. Mulheres que convivem com o autismo, elas foram as convidadas especiais desta segunda-feira (9) do projeto Diálogos com a Sociedade para a entrevista do dia no estúdio “bolha”, localizado no Shopping Estação Cuiabá.

“Não falo do espectro com uma linguagem clínica e profissional, falo por meio da vivência mesmo, pois fui descobrir o que era TEA através de mim, e foi um susto. Quando tive o diagnóstico, minha primeira reação foi negar. Até porque eu não sabia o que era, apenas achava que sabia. Foi aí então que eu entendi que o autismo não tem uma cara, não tem um jeito, e que para se chegar a um diagnóstico é preciso investigação”, contou Leilah Moreno, autista de suporte nível 1, no início do bate-papo.

De acordo com Leilah, foi o autismo que a colocou no mundo artístico. “Alguns autistas têm o hiperfoco e o meu é a arte. Deixei de ver o TEA como um castigo, hoje ele significa liberdade, pois tenho a liberdade de ser quem eu sou e já não me culpo por ser diferente. O meu autismo me permite dizer sou uma autista de suporte 1, que existimos, estamos aqui e precisamos ser enxergados, porque também temos as nossas deficiências, que são ocultas”, acrescentou.

Ao lado dela, a promotora de Justiça Sasenazy Daufenbach, mãe de um jovem autista de suporte nível 3 não verbal, com algumas dificuldades sensoriais, reforçou esse posicionamento. “É um privilégio dialogar sobre esse tema com a sociedade e trazer facetas tão diferentes sobre um único assunto, uma matéria inesgotável. Nós não temos um rótulo, ou seja, um roteiro para todos, o que existem são características muito similares. E não podemos ver o diagnóstico como uma caixa ou um carimbo. Na verdade, ele é uma forma de tratar com dignidade a pessoa. Costumo dizer que não podemos piscar o olho porque, a cada piscada, é um direito violado”, expôs a integrante do MPMT.

Segundo Sasenazy, o filho dela tinha dois anos de idade quando iniciaram o processo de investigação. João não era um autista clássico, o que chamava a atenção dos pais era a ausência de comunicação verbal. Ele se integrava bem e mesmo a família tendo condições de proporcionar um bom atendimento em saúde, o diagnóstico ocorreu quase que dois anos depois. “Na época não havia diagnóstico precoce e nem estimulação precoce”, revelou. Contudo, mais de uma década depois, essas dificuldades ainda existem, principalmente na saúde pública, conforme a promotora de Justiça.

A entrevistada lamentou a dificuldade de encontrar profissionais especializados na rede pública de saúde para fazer o diagnóstico. E relatou que, diante desse cenário, muitas famílias apelam para planos de saúde particulares, iniciando uma “nova peregrinação”. Sob o ponto de vista da educação, defendeu que a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº 9.394/1996) traz todos os pontos fundamentais para atendimento de pessoas com autismo e outras deficiências, e inclusive prevê o Plano Educacional Individualizado (PEI) para alunos com necessidades educacionais específicas.

Com Leilah não foi diferente. Ela revelou que o diagnóstico veio tardiamente e que, embora se enxergasse diferente das outras crianças, a preocupação surgiu na adolescência, após uma crise de ansiedade e depressão. “Busquei ajuda na saúde pública e fui medicada com tarja preta. Não tive uma investigação, acabei ficando dependente dos remédios para me socializar”, lembrou. A artista contou que foi diagnosticada no México, com a ajuda de um amigo neurocientista.

“Quando recebi o diagnóstico, fui a primeira pessoa a ter preconceito. Mas hoje eu sei como é, como funciona, e foi a partir do momento em que passamos a disseminar esse assunto. A melhor ferramenta que temos, que é de graça, é o conhecimento. Precisamos falar que existe o autismo, que há diferentes níveis de suporte e que essas pessoas estão inseridas na sociedade e muitas vezes não sabemos quem são. Precisamos levar essa discussão para as escolas, para o mercado de trabalho”, defendeu a artista.

Para Leilah, é preciso que as pessoas busquem esse conhecimento para respeitar os autistas. “A primeira coisa que precisamos é respeito e isso vem a partir do entendimento e da aceitação. Não só para nós, que estamos dentro do espectro, mas para todos. Buscar esse conhecimento é fundamental”, avaliou. “Esse é um momento muito importante, porque tenho a meu lado alguém que está falando sobre essa condição. E eu tenho em casa alguém que não consegue falar. O conhecimento é essencial para sairmos da bolha, e isso é muito simbólico neste momento, aqui no estúdio. Vamos sair da bolha”, conclamou Sasenazy.

Assista aqui ao programa na íntegra. 

Saiba mais – O projeto Diálogos com a Sociedade é uma inciativa do Ministério Público do Estado de Mato Grosso e conta com parcerias de empresas privadas. As entrevistas ao vivo ocorrem de segunda a sexta-feira, às 19h, até o dia 13 de setembro, transmitidas ao vivo pelo Portal Primeira Página da Rede Mato-grossense de Comunicação (RMC).

São parceiros do projeto: Shopping Estação Cuiabá., ZF Comunicação, TV Centro América, Áster Máquinas, Rádio CBN Cuiabá, Ditado Produções e Eventos, Instituto Mato-Grossense da Carne (Imac), Bodytech Shopping Goiabeiras, Energisa Mato Grosso, Associação Mato-grossense dos Produtores de Algodão (Ampa), Associação Mato-grossense do Ministério Público (AMMP), Amaggi, Todimo, Ginco, Plaenge, Comper, Brasido, Bom Futuro, Aposoja, Café e Prosa e Divino Amor.

Fonte: Ministério Público MT – MT

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