Vi o Brasil rural urbanizar-se a partir da década de 50, escutando tudo naquele radinho “Standard Electric” à bateria, e depois o radião “Philips” de 1958, com válvula de olho mágico para sintonia das “estações”.
Eduquei-me ao pé do fantástico rádio brasileiro dos anos 50 e 60. Escutei, por anos seguidos, o “Repórter Esso” com Heron Domingues, o humor do “Balança mas Não Cai”, de Paulo Gracindo, os grandes romances dramatizados no “Rádio Teatro Colgate-Palmolive” na Rádio Nacional do Rio de Janeiro. Às novelas “Jerônimo, o herói do sertão”, o “Anjo”, e “Uma voz ao longe”.
E ouvi as grandes vozes do sertão e da cidade cantarem os clássicos da viola e do samba-canção. Escutei Bossa Nova e Jovem Guarda, também.
Depois, assisti ao nascimento da televisão brasileira, do computador, da internet, do telefone celular, do videocassete, do dvd, da câmera fotográfica digital, do pen drive…ufa!!!!!!! Tudo isso em 68 anos!!!!
Assisti aos grandes movimentos políticos, sociais e econômicos brasileiros desses último 60 anos. Interferi como jornalista em muitas posições e circunstâncias. Registrei fatos importantes.
Tive grandes alegrias. Grandes tristezas e grandes decepções. Grandes expectativas!
Mas, lá no fundo o mineiro de Campos Altos, nascido entre as serras frias de Minas nunca perdeu o otimismo no homem, no país, nas pessoas e na História.
Isso talvez seja coisa de caipira: acreditar sempre que as coisas um dia mudarão para melhor.
Encerro esse perfil com uma lembrança pessoal singela: “sou caipira, filho de Sebastião Felisberto e de dona Julieta, neto de Tonico Felisberto e Paulina, de Zezinho Sant´Anna e de dona Alvina, benzedores de quebranto, de mau-olhado, de arca caída, de doenças do espírito, de mordida de cobras e de bichos peçonhentos.
Ouvi a cantiga do carro de bois e escutei o berrante nas comitivas de boiadas nos confins de Minas… vi boiadas passarem, abri porteiras e ganhei moedas dos boiadeiros, como na canção clássica do “Menino da Porteira”.
Como eles, tenho o maior orgulho de ser caipira. O verniz da civilização urbana é fininho. Basta um arranhão na pele que a terra vermelha aparece viva e gritando: viva todos os caipiras como eu!”
Ah! Ia me esquecendo. Como bom mineiro, sou bom contador de causos!