Num tempo antigo, quando a vila de Livramento ainda era cercada por vastas matas virgens e bosques densos, a vida corria tranquila entre os campos e os ribeirões. Grandes propriedades se espalhavam pela paisagem, testemunhas do poder dos velhos posseiros, e as crianças brincavam livres entre flores, pássaros e borboletas.
Foi num desses dias, de céu limpo e ar doce, que um menino de apenas quatro anos, encantado pelo colorido das asas das borboletas e pelo canto das aves, seguiu mata adentro. Fascinado, foi se afastando de casa sem perceber, perdido no esplendor da natureza.
Horas se passaram. O sol já se inclinava no céu quando o menino deu-se conta de que não sabia mais voltar. O medo apertou-lhe o peito. Sentiu fome, sede, e as lágrimas brotaram nos olhos. Sentou-se à beira de um riacho e começou a chamar pela mãe, com a voz embargada pelo desespero.
Foi então que ela apareceu.
De entre a mata, surgiu uma jovem de beleza serena, vestida com um lindo vestido azul, o rosto envolto numa luz suave, acolhedora. Sem dizer palavra, ela ajoelhou-se diante da criança, segurou-lhe a mão com ternura e sorriu.
— “Vem, meu anjinho. Vamos para casa.”
O menino seguiu a moça, sentindo-se seguro como se estivesse nos braços da própria mãe. Ao chegarem à entrada do povoado, ela ajoelhou-se, olhou-o nos olhos e disse com voz doce:
— “Se alguém lhe perguntar quem o trouxe, diga apenas que foi a melhor amiga de todas as mães… a Princesa Branca do Vestido Azul.”
Ao vê-lo regressar ao lar, a vila inteira celebrou. Os pais, que o procuravam há horas pelas matas e ribeirões, já sem esperança, choraram de alívio e gratidão. Em sinal de fé e agradecimento, mandaram celebrar uma missa na capela da vila.
Na manhã seguinte, a igreja estava cheia de flores, luzes e fé. O menino, de mãos dadas com os pais, caminhava pelo corredor central quando apontou, com o rosto iluminado pela alegria:
— “Olha, mãe! Ali está a moça que me trouxe pra casa! Com o mesmo vestido azul!”
No altar, adornada de flores, estava a imagem de Nossa Senhora do Livramento — a mesma que o guiara pela mão quando a esperança parecia perdida.
Desde então, na vila de Livramento, muitos acreditam que a Santa protege as crianças e guia os que se perdem — não apenas na floresta, mas também na vida.