Em 1926, pelas calçadas e praças de Cuiabá, não se falava de outra coisa senão da jovem bela e encantadora que iluminava a cidade com sua presença. Conhecida pelo sorriso fácil e pelo espírito alegre, ela era muito estimada pela sociedade cuiabana, especialmente durante os animados bailes de Carnaval.
Naquele ano, entregou-se por completo à folia: dançou, cantou e sorriu durante os três dias de festa dedicados ao reinado de Momo. No entanto, mal findaram os festejos, a jovem adoeceu subitamente. Em poucos dias, sua luz apagou-se, deixando a cidade mergulhada em tristeza e espanto.
O tempo passou e, como é costume, a memória da moça começou a esvair-se das conversas do quotidiano. Até que, numa certa noite, no bairro do Porto, começaram os primeiros relatos de uma aparição.
Alguns foliões diziam ter avistado uma mulher vestida de branco, com feições delicadas e conhecidas. Aproximava-se silenciosa, quase etérea. Quem a via jurava: era a mesma jovem que falecera no Carnaval. O vulto, porém, desaparecia tão misteriosamente quanto surgia.
Com o tempo, a lenda ganhou novos contornos. Contava-se que, durante os bailes carnavalescos, a moça voltava em espírito, deslumbrante, dançando entre os vivos. Escolhia um parceiro e, ao fim da noite, levava-o consigo até às imediações do Cemitério da Piedade.
Ali, diante do velho portão de ferro, sorria pela última vez, despedia-se… e sumia na penumbra da madrugada, entre as sombras das sepulturas.
Desde então, muitos evitam aceitar danças de desconhecidas nos bailes do Porto, especialmente aquelas vestidas de branco. Pois nunca se sabe se se trata de uma foliã comum… ou da Visão que, todos os anos, regressa para um último Carnaval.