Corsíndio Monteiro: Direito e Cultura em perspectiva

Bacharel em Ciências e Letras e em Ciências Jurídicas e Sociais pela Universidade do Rio de Janeiro, Corsíndio Monteiro (Cuiabá –MT, abril de 1919, Brasília – DF, 2007) atuou como magistrado em Mato Grosso e integrou, a partir de 1961, o Serviço Jurídico da União, em Brasília (DF). Para além do cargo na Secretaria de Planejamento da Presidência da República, assinou vasta obra literária versando, sobretudo, acerca do Direito e da cultura mato-grossense. Sob estes nortes publicou, dentre outros: Joaquim Ribeiro e a Folk-lore of Américas (1943); Acumulação de cargos (1965); Cultura mato-grossense (evocação sentimental 1972); O Escolhido (1984); O Arcebispo e as Flores (1986) e Menestréis da beleza, da liberdade, do Direito e da Justiça (1990). Pela notável produção, ocupou a cadeira de nº 10 da Academia Mato-grossense de Letras (AML). Também foi membro do Instituto Histórico e Geográfico do Estado de Mato Grosso (IHGMT), da Academia de Letras de Brasília (ALB) e da Associação Nacional de Escritores (ANE), além de ter sido condecorado pelas Forças Armadas. Ao longo desta trajetória criou expressiva biblioteca particular, que, por vontade sua, foi doada à Casa Barão de Melgaço após seu falecimento.

Wlademir Dias Pino: Intensivismo e poesia concreta

O poeta e artista Wlademir Dias Pino (Rio de Janeiro – RJ, 24/04/1927 – Rio de Janeiro – RJ, 30/08/2018) chega com a família a Cuiabá em 1936, onde passa a juventude. Em 1939 edita, na gráfica de seu pai, seu primeiro livro: Os Corcundas. Poeta, artista visual e gráfico, funda, em 1948, o Intesivismo, movimento literário carregado de fortes inovações que antecipariam as tendências mais radicais da poesia visual e das artes plásticas das décadas de 1950 e 1960 no Brasil. De volta ao Rio de Janeiro, em 1952, passa a participar dos movimentos de vanguarda política e cultural da época. Torna-se ainda um dos seis fundadores do movimento da poesia concreta no país, ao lado de Décio Pignatari, Ferreira Gullar, Haroldo de Campos, Augusto de Campos e Ronaldo Azeredo. Na sequência, participa da I Exposição Nacional de Arte Concreta, em 1956. Ao propor uma leitura do mundo a partir das figuras, sua prática desafia a relação entre imagem e linguagem. Desta busca, por uma espécie de metáfora pura, surgiu o poema/processo (1967). Dias Pino foi também o primeiro autor a elaborar o conceito de “livro-poema”, com A Ave, tendo publicado dois outros livros fundamentais da literatura brasileira: Solida (1956-1962) e Numéricos. Wlademir faleceu em 2018.

Wander Antunes, autor de ‘Canalha’ e ‘Clara dos Anjos’

O Ilustrador e roteirista de histórias em quadrinhos Wander Antunes (Jataí- Go, 1966) mudou-se aos 16 anos para Cuiabá. Aqui editou as revistas Vôte! e Estação Leitura, que reuniam histórias em quadrinhos, crônicas, poesias e contos de autores mato-grossenses.  Uma de suas criações de maior sucesso, Zózimo Barbosa – O Corno que Sabia demais, foi adaptada para uma série da Rede Globo de Televisão em 2017. Sua primeira graphic novel, Crônicas da Província, foi lançada em 1999 em parceria com o desenhista Mozart Couto. A dupla voltaria a se reunir para A Boa Sorte de Solano Dominguez (2007). Em 2010, a editora franco-belga Dupuis publicou seu álbum Toute la poussière du chemin. Wander escreveu também Canalha (2002) e Clara dos Anjos (2011). Ilustrado por Lelis, este último é baseado na obra homônima de Lima Barreto. Em 2004, fez sua estreia no mercado europeu de histórias em quadrinhos, com Gilda. A originalidade de sua obra lhe rendeu o Troféu HQ Mix – Publicação mix  pela Revista Canalha (2001), o Troféu HQ Mix, como roteirista (2007) e o Prix Marlysa: le coup de coeur, no Festival de Chambery, na França (2005). Atualmente, escreve para a Paquet, editora suíça sediada em Genebra.

Tereza Albuês, patrona perpétua das letras brasileiras

A ‘Patrona Perpétua das Letras Brasileiras’, Tereza Albues (Várzea Grande – MT, 1936 – Nova York – EUA, 2005) graduou-se em Direito, em Letras e Jornalismo pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), mudando-se na sequência para São Francisco e depois Nova York, nos Estados Unidos da América (EUA). Embora tenha escrito toda sua obra de lá, ao longo de 25 anos, seus primeiros romances são ambientados nas planícies pantaneiras de sua terra natal. A influência de sua literatura traduz-se em importantes títulos. Em 1999 recebeu Menção Honrosa no Concurso de Contos Guimarães Rosa, em Paris. Seu nome consta no livro História da Literatura de Mato Grosso, na Enciclopédia de Literatura Brasileira e no Dicionário Crítico de Escritoras Brasileiras. Em 2013 torna-se Patrona Perpétua das Letras Brasileiras em Nova York, pelo Brazilian Endowment for the Arts (BEA). Lançou livros como Pedra Canga (1987); Chapada da Palma Roxa (1991); A Travessia dos Sempre Vivos (1993) e O Berro do Cordeiro, em Nova York (1995). Tem ainda contos publicados na antologia Na Margem Esquerda do Rio: Contos de Fim de Século (2002). Na França, publicou o romance A Dança do Jaguar (2001). Tereza faleceu em 2005, em Nova York, deixando vários trabalhos inéditos.

Santiago Santos, autor de ‘Na Eternidade Sempre é Domingo’

Santiago Santos, nascido em Blumenau (SC) em 1987, é uma figura de destaque na arte das flash fictions — narrativas breves de intensa profundidade. Ainda na infância, mudou-se para Cuiabá, onde consolidou suas raízes. Formado em jornalismo pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), exerce múltiplos talentos como escritor, tradutor e comunicador. As primeiras incursões de Santiago no universo das flash fictions ganharam vida em seu perfil no Facebook, mas, a partir de 2013, encontraram abrigo no site flashfiction.com.br, um espaço mais adequado ao gênero. Além disso, colaborou com antologias, blogs, jornais e revistas, ampliando o alcance de sua produção literária. Entre suas obras, destacam-se Na Eternidade Sempre é Domingo (2016), uma imersão nos mitos e na história dos incas, conduzida pelos passos de uma mochileira em Machu Picchu, e Algazarra (2018), uma coleção envolvente de minicontos que revela sua maestria no gênero breve.

Rubens de Mendonça, expoente da historiografia mato-grossense

Rubens de Mendonça (Cuiabá, MT, 27 de julho de 1915 – 3 de abril de 1983) é uma figura proeminente na história cultural de Mato Grosso. Filho do também escritor Estêvão de Mendonça, destacou-se como poeta, historiador e jornalista, sendo amplamente reconhecido como o maior expoente da historiografia mato-grossense. Ao longo de sua trajetória, desempenhou ainda atividades como escriturário, avaliador judicial e professor de Língua Portuguesa. Fundador e diretor de diversos jornais e revistas, deixou sua marca em publicações como Correio da Semana, O Estado de Mato Grosso, Correio da Imprensa e Diário de Cuiabá. Seu legado literário é extenso, com 38 obras publicadas, entre as quais se destacam: Aspecto da Literatura Mato-Grossense (1938), Álvares de Azevedo, o Romântico Sertanista (1941), No Escafandro da Vida (1946), Dom Pôr do Sol (1954), Roteiro Histórico e Sentimental da Vila Real do Bom Jesus de Cuiabá (1954), Sagas & Crendices da Minha Terra Natal (1969) e Dicionário Biográfico Mato-grossense (1970). Sua obra, que entrelaça poesia e historiografia, garantiu-lhe um lugar de honra no Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso (IHGMT) e na Academia Mato-grossense de Letras (AML). Como forma de preservar e perpetuar sua memória, grande parte de sua produção — assim como a de seu pai — foi doada pela família ao Arquivo da Casa Barão de Melgaço, onde está catalogada, digitalizada e disponível para pesquisadores, consolidando sua contribuição inestimável à cultura e história de Mato Grosso.