O dialeto cuiabano possui uma característica fascinante na concordância de gênero, que reflete a diversidade cultural que marcou a colonização de Mato Grosso. A Baixada Cuiabana, hoje Vale do Cuiabá, foi um ponto de encontro de várias línguas e dialetos ao longo da história, incluindo línguas indígenas, o castelhano das fronteiras, o português dos bandeirantes e a variante crioula dos negros escravizados.
Essa convivência de diferentes grupos linguísticos fez com que o português se estabelecesse como língua comum, embora com marcas regionais. Uma das peculiaridades do dialeto cuiabano é a variação na concordância de gênero, onde palavras que seriam femininas na norma padrão aparecem com o gênero masculino, criando uma identidade linguística própria para a região.
Exemplos dessa singularidade incluem expressões como:
- “Vou lá no mamãe”, em que “mamãe” recebe o artigo definido masculino.
- “Banana fritado na manteiga”, com o adjetivo “fritado” não concordando com o substantivo feminino “banana”.
- “Banana gostoso esse que Dito prantô”, em que tanto o adjetivo quanto o pronome demonstrativo refletem o masculino, ainda que o substantivo seja feminino.
Essas construções revelam uma simplificação nas regras de concordância, muitas vezes baseada no gênero dos artigos ou na fonética. Esse fenômeno não é um descuido linguístico, mas sim uma herança histórica das interações entre culturas e línguas, que resultou em uma forma de expressão autêntica e regionalmente rica.
O dialeto cuiabano é, portanto, mais do que uma variante da língua portuguesa: é um testemunho vivo da miscigenação cultural e da criatividade linguística do povo cuiabano. Ele reflete a história de encontros, adaptações e resistências, consolidando-se como um patrimônio imaterial que dá voz à identidade única da Baixada Cuiabana.