As artes circenses, com raízes profundas na história da humanidade, alcançaram seu apogeu em diversas civilizações, como as da China, Grécia, Egito e Índia, e consolidaram-se em moldes próximos aos de hoje no Império Romano. Contudo, foi em meados do século XX, especificamente nos anos 1950, que Cuiabá viveu um momento de encantamento singular com a chegada do Circo Bocute, marcando uma era de diversão e nostalgia para a cidade.
Armado na antiga Praça Santa Rita, hoje conhecida como Campo D’Ourique, o Circo Bocute transformou o local em um epicentro de magia e entretenimento. Antes usado para as emblemáticas touradas cuiabanas, o espaço agora abrigava números que deslumbravam e uniam a comunidade. No centro das atenções, destacava-se o palhaço Pasta Chuta, cuja hilaridade e carisma encantavam adultos e crianças, arrancando gargalhadas genuínas em tempos de simplicidade.
A música também encontrou seu palco no Circo Bocute. A dupla sertaneja “Nhô Pai e Nhô Fio” era presença frequente nos espetáculos, trazendo melodias que tocavam o coração do público cuiabano. Não apenas artistas locais, mas verdadeiras lendas da música nacional passaram pelo circo: Nhô Pai, conhecido por compor clássicos como “Beijinho Doce”, marcou época, tendo também formado parceria com João Salvador Peres, o Tonico da célebre dupla Tonico e Tinoco.
O Circo Bocute era mais que um espaço de risos e canções. O espetáculo atingia o ápice com apresentações de ginastas nos trapézios, que desafiavam a gravidade com movimentos elegantes e ousados. Um dos momentos mais esperados era o Globo da Morte, onde motociclistas atravessavam uma esfera metálica em alta velocidade, deixando o público em êxtase. Entre os heróis desse número estava o cuiabano Névio Lotufo, da Motosblim, que se tornou uma lenda local, recebendo aplausos de pé em suas performances memoráveis.
O jornalista Paulo Zaviaski, ao relembrar o impacto do Circo Bocute, captou o sentimento de uma época em que o circo era mais que um evento: era uma celebração da arte e da vida, um encontro entre o cotidiano e o extraordinário. O Circo Bocute não apenas trouxe brilho e encantamento para Cuiabá, mas também deixou uma marca duradoura na memória cultural da cidade, revivendo o poder do riso, da música e do espetáculo como elementos que aproximam gerações.