Cidadania. Cidadania. E cidadania.

A primeira vez tentei estacionar em frente à Assembléia Legislativa na Rua Barão de Melgaço. Não consegui. Em seguida, na rua Diogo Domingos Ferreira. Também não consegui. Por último, na avenida do CPA, e também não consegui.

E não foi a falta de estacionamento que me irritou. Foi justamente a existência de vagas ocupadas indevidamente. Vamos começar pela tentativa de estacionar em frente à Assembléia Legislativa. Junto ao meio-fio os carros estacionam sem guardar a distância entre um carro e outro, tanto da frente como de trás. Do jeito que param, ficam. E atrás do carro ficam dois ou três metros de distância do carro já estacionado, e um ou dois metros também, do carro da frente. Se esse carro que estacionou por último entre os dois, tivesse o bom senso de ser guiado dois metros para frente ou para trás, deixaria vaga para mais um carro, nesta cidade de tão poucos estacionamentos.

Tive o cuidado de contar quantos carros estavam estacionados assim, e concluí que ontem, às 11 horas da manhã, 12 carros mais poderiam estar estacionados num trecho de 200 metros na Rua Barão de Melgaço, defronte à Assembléia Legislativa.

A mesma coisa aconteceu na Rua Diogo Domingos Ferreira. Mas na avenida do CPA, que fica muito congestionada ali no trecho do edifício Vila Bela até a altura do viaduto, nos dois lados de cada pista, o problema é mais grave. Não havendo opções próximas para estacionamento, como há nas duas ruas que citei antes, o infeliz que chegar depois dos espaçosos que o antecederam, vai ter que andar até 500 metros por uma vaga que está ali. Apenas mal administrada.

Imagino que se as pessoas tivessem o cuidado de perceber que o seu carro não é o único na cidade que precisa estacionar, talvez o problema diminuísse. E ficaria mais democrático e civilizado. Sobretudo civilizado, se esses motoristas individualistas observassem a pintura no solo que demarca o espaço de cada carro. Não custaria nada. E seria, antes de mais nada civilizado. Ser civilizado é exercer a cidadania. Até no trânsito.

Outro ponto na cidadania do trânsito também pude observar ontem de manhã. Não que eu tirasse o dia para ver os defeitos dos outros.  Mas é que por causa do primeiro acabei enxergando o segundo. Eu vinha do Coxipó pela avenida Senador Metello para entrar na Comandante Costa. No cruzamento da Senador Metello com a rua Barão de Melgaço vi uma coisa comum, mas ao mesmo tempo uma forte demonstração do mesmo desrespeito à cidadania própria e à de terceiros.

Um carro Gol parou na esquina com o sinal vermelho, mas avançou a faixa de pedestres e ficou acelerando o carro, anunciando uma arrancada a qualquer momento, com ou sem sinal verde. Na esquina três crianças com uniforme escolar aguardavam a hora de passar, mas não ousavam avançar com medo do, Gol.  E, de fato, ele arrancou mesmo com o sinal vermelho. E as crianças que tiveram que esperar a abertura do sinal verde e o seu fechamento para arriscar a atravessar a avenida.

O desrespeito pela faixa de pedestres é muito mais grave do que se pensa, porque é a ameaça da máquina sobre as pessoas. É só prestar atenção no comportamento generalizado dos motoristas para se avaliar quanto é séria essa questão. O pedestre não ser respeitado e sinal de pouca valorização da vida alheia.

É curioso, que pessoas de todos os níveis, o médico, o deputado, o jornalista, o funcionário etc., cometem o mesmo avanço moral sobre a vida de quem está a pé e fora de uma máquina semovente.

Isto é exercício da cidadania. E a cidadania mal exercida é o maior de todos os problemas brasileiros neste momento. Desde o simples avanço no sinal de trânsito, o estacionamento mal feito na calçada, o avanço sobre a faixa de pedestres são sinais vitais da cidadania, que é um dos nossos mais frequentes sinais de decomposição cívica dos últimos tempos.

Penso que o trânsito reflete tudo o mais que se possa dizer sobre o exercício da cidadania.

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