De Rondon à fibra ótica

O silêncio na região era total antes disso. A única forma de comunicação permanente eram os rádios de fazendas e das colonizadoras, não haviam linhas permanentes de aviões, a rodovia não era pavimentada nem mesmo até Colíder como hoje. A televisão era um sonho.

A partir de 1984 começam a surgir clandestinamente as antenas parabólicas capazes de captar o sinal transmitido pelo satélite e convertê-lo em imagens. Desse modo o nortão era uma ilha mergulhada no mais profundo silêncio. O único som que de fato chegava em caráter permanente era o do RádioNacional da Amazônia, gerada em Brasília, com programação especial voltada para a região. Aliás, o governo federal, ainda sob a o período militar, obedecendo à doutrina revolucionária que moldou o figurino administrativo do País em “Segurança e Desenvolvimento” previa o abastecimento de informações às regiões fronteiriças com todos os países sul-americanos, de forma a evitar as influências comunistas supostamente vindas, por exemplo, da Guiana Holandesa (hoje Suriname), Bolívia; Venezuela, Peru, etc.

Nacional, como era conhecida, serviria perfeitamente para cumprir esse papel e, cumpriu. Afastou as informações indesejáveis vindas de fora e alimentou o colono de Mato Grosso, o garimpeiro do sul do Pará e as regiões acima do paralelo 10, que sempre estiveram fora do mapa, das informações.

Desde então três coisas mudaram. A rodovia Cuiabá-Santarém está pavimentada até Colíder e permite tráfego o ano inteiro; a televisão captada do satélite dá o enfoque nacional e internacional somente, e a Nacional perdeu a importância inicial para as emissoras locais. Por sua vez, hoje a política é a de integrar a América do Sul, ao contrário daquela época xenófoba.

Só que o crescimento da região do Médio Norte e do Norte está exigindo maior ligação por informações.

Surge agora nesse quadro confuso uma perspectiva nova muitíssimo interessante. A Empresa de Comunicações Italiana Telespazio e a Telebrás brasileira assinaram um acordo de cooperação econômica, industrial, científico-tecnológico para instalar em três anos 50 estações terrenas de comunicações via satélite em regiões do Acre, Mato Grosso e Amazonas, envolvendo recursos de 80 milhões de dólares. O contrato deverá ser assinado em 15 de março próximo, também para a instalação de um enlace de rádio digital entre Cuiabá e Colíder, permitindo nesse espaço maior disponibilidade de telefones para as cidades que ainda não possuem, e ampliação das demais. ,

Serão 31 novas cidades que receberão centrais telefônicas, sendo 20 novas e 11 ampliadas, 49 postos de serviços e cerca de 600 propriedades rurais beneficiadas.

As instalações de estações terrenas, que fazem parte de outro aspecto do projeto, 28 serão em Mato Grosso, que atenderão a 4 vilas, 36 povoados e 100 propriedades rurais de difícil acesso.

Na prática, isso significa dizer que as ligações vão se descomplicar e que os atuais 99 mil -terminais existentes no Estado poderão ser multiplicados por três vezes. Uma ligação de Sinop para Cuiabá percorrerá hoje a seguinte viagem: Sinop-Cuiabá-satélite-Guaratiba(RJ) por cabo terrestre Cuiabá-Guaratiba-satélite-Sinop, em questão de segundos. Isso congestiona toda a rota para atender a uma única ligação. A rota Cuiabá-Colíder resumirá uma ligação de Sinop a Cuiabá, apenas às duas cidades.  Fora o fato de que permitirá a expansão de atendimento às cidades circunvizinhas à rota Sul-Norte de Mato Grosso, com equipamentos digitais operados por meio de fibras óticas.

As informações são hoje o mais valioso bem de consumo de nossa civilização, e a integração do nortão só favorecerá a Mato Grosso, que sai do isolamento do Marechal Rondon para a era da fibra ótica.

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