Domingos Iglesias, “o senhor das águas”

Dessa forma, desde o início da história do mundo, os povos já celebravam os feitos de quantos se sobressaíssem por sua honestidade, bravura, força, coragem, inteligência e pela cultura. O cultivo dessa rememoração sempre serviu de meio para difundir nas pessoas as virtudes dos homens raros, incentivando a imitação de seu gesto na trilha de seu comportamento exemplar. Assim é Domingos Iglesias Valério.

Cabe-me incentivar o cultivo da memória viva de Domingos Iglesias Valério que, no dia 11 de agosto de 1926, nascia, em Pitangui, estado de Minas Gerais, filho do casal: Hilda Valério Iglesias e Antero Iglesias. Homem de rara inteligência, soberbo na defesa dos recursos hídricos, capaz no exercício de professor, titã no uso da matemática, mestre do espargimento dos conhecimentos científicos, católicos e, engenheiro civil pela Universidade Federal do Paraná, em 15/15/1953, com atribuições de arquitetura, saneamento e traçado das cidades, portos, mares, rios, canais, astronomia. Hábil no exercício da docência, probo e ético no difícil exercício das ciências e das relações humanas, toda a sua vida é acompanhada por exemplos a serem seguidos.

Domingos Iglesias Valério, cujo nome não leva o acento gráfico, chegou em Cuiabá em 31 de março de 1957, vindo de Roraima (antigo território federal do Rio Branco), onde implantou diversas obras de engenharia civil, pois sua vocação foi sempre, a de ir avante, com o olhar para o alto, colado em Deus, suplantando obstáculos, buscando vencer com altanaria e ética. Em contínua ascensão de sabedoria, preserva o carinho pelas águas, engrandece e projeta invejáveis conhecimentos na matemática, cálculo integral e cálculo infinitesimal, recursos hídricos e hidráulica geral. Dons estes com que o aquinhoou Deus, buscando sempre uma fecunda vida intelectual e familiar.

Domingos Iglesias é neto por parte de pai, de Domingos Iglesias Bonzan, espanhol nascido em Limeres da Província de Pontevedra e Ambrosina Iglesias. Bisneto, por parte de mãe, de Januário Nicolau Valério, italiano e Maria Januária de Souza Maciel, tendo vindo para o Brasil em 1853, o qual era filho do Conde de Calderaro de Santa Milega, natural da Província de San Constantino de Riviera, Itália e hexaneto de D. Joaquina Bernarda de Abreu e Silva Castelo Branco Souto Maior de Oliveira Campos, conhecida na História de Minas Gerais, como D. Joaquina do Pompéu.

Dona Joaquina do Pompéu nasceu em 20 de agosto de 1752 e faleceu em 17 de dezembro de 1824. Foi matriarca da região onde hoje em dia se localiza o município mineiro de Pompéu e foi casada com Inácio de Oliveira Campos. D. Joaquina devido a paralisia de seu marido, assumiu a gerência dos negócios e se celebrizou, sendo por todos chamada de “D. Joaquina do Pompeu”.

Desde menino, sempre revelou profunda responsabilidade, de um lado, honrando o laborioso passado de seus ancestrais, e, com seu exemplo dignificante, sinalizando a baliza a ser trilhada não só por seus descendentes, mas por quantos se abeberaram de seus ensinamentos, na Universidade Federal de Mato Grosso – UFMT, onde é professor fundador aposentado, titular da Cadeira de Hidráulica Geral, desde 01 de novembro de 1967 e, no trabalho modelar que desenvolveu ao longo da vida, na defesa civil do estado de Mato Grosso, desde 31 de março de 1964, onde permaneceu até 31/06/2006.

Nas várias atividades exercidas, encanta toda uma geração, tanto pelo uso excepcional de seus talentos intelectuais, quanto pela argumentação irrefutável quantas vezes aflorada da sua lucidez e de seu invejável raciocínio, sempre dando lições de sabedorias distribuídas aos seus alunos, em admirável e extenso currículo hoje apresentado.

Iniciou as primeiras letras na cidade de Pará de Minas, em 1938, no grupo escolar Benedito Valadares, depois ginásio, em Divinópolis, em 1942 e o científico, no colégio Anchieta, em Belo Horizonte, em 1945, concluindo-o no colégio Afonso Arinos, na mesma capital, em 1946.

Em 1949 deslocou-se para Curitiba, bacharelando-se em engenharia civil, em 1952, onde foi orador da sua turma.  Já como acadêmico, viu despertar em seu caráter os pendores da política, onde exerceu os cargos de presidente do departamento universitário do diretório municipal do Partido Trabalhista Brasileiro, em Curitiba, em 1948 e, do movimento da mocidade trabalhista do mesmo partido, de 1949 a 1952, onde mais tarde se tornou membro.

Ex-engenheiro civil do DERMAT – Departamento de Estradas de Matogrosso, de 1957, permanecendo até o ano de 1961. De 20 de abril de 1971 a 31 de dezembro de 1975 foi engenheiro da CODEMAT – Companhia de Desenvolvimento do estado de Mato Grosso, do Departamento de Obras Públicas –DOP a partir de 02/01/1976, depois departamento de viação e obras públicas, atual Sinfra – Secretaria de Infraestrutura do estado de Mato Grosso.

Foi membro, como representante do estado de Mato Grosso, para estudar a viabilidade técnica e econômica da construção da ponte Rodoferroviário, sobre o rio Paraná (1971), na elaboração do plano nacional de recursos hídricos (1986), da elaboração do código de saúde (1991), entre outros.

É membro de diversas entidades e fundador da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE), em 06 de outubro de 1967, expandidos a criação da associação para os municípios de Diamantino, Guiratinga e Cáceres, além de membro atuante do Rotary Clube de Cuiabá e fundador da Cruz Vermelha, em Mato Grosso, em 25 de agosto de 1988.

Em 18 de novembro de 199 foi eleito membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso, tendo como patrono o historiador Luiz Carlos Pereira Tourinho

Complementou os seus estudos com as publicações sobre filosofia, políticas de transportes, plano hidroviário nacional, projeto de ligação ferroviária São Paulo/Cuiabá, obra levada para a Câmara e Senado Federal, transformada na Lei nº. 6.346, datada de 06/07/1976, de autoria do senador Antonio Mendes Canale (MT), com referências aos trabalhos técnicos do engenheiro Domingos Iglesias Valério e a sua equipe de trabalho, manual da defesa civil (1988), problema energético de mato grosso (1990), entre outros, cujo trabalho recebeu a homenagem no livro “Piaburú”, uma odisseia tupiniquim, a saga da ferrovia, edição de 1990, de autoria do jornalista Ailton José Segura.

Em meio a tantas e sucessivas atividades técnicas e científicas o professor Iglesias dedica a sua vida as atividades religiosas, como membro da igreja católica e apostólica romana como ministro extraordinário da Eucarística desde o ano de 1975 até a presente data.

Dentre as homenagens recebidas estão: Amigo da Marinha (1973), Turma de engenheiros-UFMT (1979), Paraninfo de Formandos (1956) da escola Euclides da Cunha de Boa Vista (Roraima), Asilo Santa Rita de Cuiabá (1971), gratidão do povo de Aquidauana (MS), comenda da ordem do mérito de Mato Grosso, no grau de Cavaleiro (1986), título de cidadão cuiabano (1987), hóspede oficial das cidades de São José do Rio Claro, São José do Rio Preto, Benfeitor emérito do exército (1989), moção de aplauso da Assembleia Legislativa de MT (1997/2003). É cidadão mato-grossense, desde 19 de setembro de 2002, entre outras notáveis homenagens.

Hoje, aposentado da UFMT e como servidor público do governo do estado de Mato Grosso, o engenheiro Domingos Iglesias Valério continua as atividades intelectuais, lembrando sempre que “o homem que busca conhecimento, deixa de ser aluno em classe para ser estudante por toda vida”.

Em trajetória sempre ascensional, conseguiu como poucos assegurar que a força de sua cultura e de ideias brilhasse contínua e intensamente. Professor universitário por inteiro, é patente o reconhecimento da Universidade Federal de Mato Grosso pelos relevantes serviços prestados, dedicação, espírito pesquisador e pela cultura que sempre exornou sua qualidade de homem íntegro e de docente nato.

Imortalizado por seu fecundo e benemerente trabalho e por suas férteis obras literárias, ele verdadeiramente não partiu. Permanece e permanecerá entre nós, ensinando-nos com seu bom exemplo a desfolhar, dia a dia, uma a uma, as páginas da história que diuturna e brilhantemente escreveu.

Exemplo de cidadão, engenheiro, senhor em defesa das águas, professor exemplar, católico fervoroso e pai de família apaixonado e casado com Norma Boelher Iglesias com quem tem 4 filhos. Faleceu em 6 de março de 2010.

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O Almanaque Cuyabá é um verdadeiro armazém da memória cuiabana, capaz de promover uma viagem pela história em temas como música, artes, literatura, dramaturgia, fatos inusitados e curiosidades de Mato Grosso. Marcam presença as personalidades que moldaram a cara da cultura local.