Padre da 1ª missa sofreu ataques em sua chegada a Cuiabá

A notícia da descoberta de ouro em Cuiabá, em 1720, foi recebida com grande entusiasmo, provocando o envio de diversos comboios rumo às minas. A jornada se iniciou às margens do afluente do rio Paraná, subindo até as águas do rio Paraguai, enfrentando desafios imensos ao longo do percurso. As tropas padeceram de fome, sem saber pescar, e sofreram ataques de onças, o que resultou em mortes. Em algumas embarcações, todos os integrantes faleceram, sendo seus corpos encontrados em avançado estado de decomposição por aqueles que seguiam atrás. Entre os que seguiram para Cuiabá estavam os capitães José de Sá Arruda e Jacintho Barbosa Lopes, além de outros militares. Um fato notável dessa comitiva foi a presença de quatro religiosos, cuja contribuição espiritual seria decisiva para a fundação da cidade: os padres Florêncio dos Anjos, carmelita; Jerônimo Botelho e André dos Santos Queiroz, ambos da ordem de São Pedro; e Pacífico dos Anjos, franciscano, irmão do capitão-mór Jacintho Barbosa Lopes. No final daquele ano, o grupo chegou ao arraial que mais tarde seria conhecido como São Gonçalo. Daí, seguiram para o Coxipó acima, no lugarejo então denominado Forquilha, onde fundaram um novo arraial e ergueram uma igreja dedicada a Nossa Senhora da Penha de França, que permanece até hoje como um marco histórico. Foi nesta pequena paróquia que o padre Jerônimo Botelho celebrou a primeira missa em Cuiabá, seguida pela segunda celebração a cargo do padre André dos Santos Queiroz. Esses acontecimentos marcaram o início da presença religiosa na região e o início da fundação de Cuiabá, dando início a um ciclo de evangelização e desenvolvimento que moldaria o futuro da cidade.
Das primeiras rodas de Cuiabá: automóveis, ônibus e diligências

A história da mobilidade em Cuiabá guarda momentos marcantes que refletem o progresso e a transformação urbana da cidade. Um desses marcos encontra-se na antiga Travessa Senador Metelo, conhecida à época como Beco do São Gonçalo. Ali, em uma modesta estrutura de zinco, funcionava o galpão da Garagem Dorsa, pertencente à firma Dorsa & Irmãos, pioneira na importação de automóveis na região. Essa empresa protagonizou um evento histórico ao vender ao então presidente do Estado, Dom Aquino Corrêa, o primeiro automóvel que chegou à capital mato-grossense: um luxuoso Landau Let, de cor preta, conduzido pelo chofer Francisco Zani. Além do comércio de automóveis, o mesmo galpão foi ponto de partida para outra inovação no transporte local: a primeira linha de auto-ônibus que conectava o 1º Distrito ao 2º Distrito (Cuiabá-Porto). A iniciativa foi lançada durante o governo de Dom Aquino, que ordenou a preparação da Rua Nova – hoje conhecida como Avenida Dom Aquino – para garantir o tráfego das modernas conduções. A passagem custava inicialmente 200 réis, valor que subiu para 300 réis no ano seguinte. Essa conexão facilitou o deslocamento entre os principais pontos da cidade, marcando o início de um transporte público organizado. Do galpão aos campos do Coxipó: A era das diligências Muito antes da chegada dos automóveis e ônibus, Cuiabá já experimentava formas inovadoras de transporte. Registros históricos indicam que em 1875, o negociante André Gaudie Nunes organizou um serviço pioneiro para proporcionar um passeio entre a cidade e o povoado do Coxipó. A novidade era uma elegante diligência, puxada por quatro animais e com capacidade para transportar até 12 pessoas por viagem. Um anúncio publicado à época, com um tom convidativo, descrevia a experiência: PASSEIO PARA O COXIPÓ No domingo, 20 do corrente, achar-se-á no Alto da Misericórdia uma diligência puxada por quatro animais, a qual partirá às 6 e 8 horas da manhã, voltando às 4 e 6 da tarde, conduzindo até 12 pessoas em cada viagem. Vendem-se bilhetes para ida e volta ao preço de 2$000 na Rua 13 de Junho, junto ao mercado. Essas viagens não eram apenas deslocamentos, mas eventos sociais, proporcionando aos cuiabanos a oportunidade de explorar as margens bucólicas do Coxipó, em um misto de aventura e lazer. Uma Cidade em Movimento Esses episódios, aparentemente corriqueiros, revelam o quanto Cuiabá já respirava modernidade e experimentava transformações que anunciavam o progresso. Do ruído das rodas de diligências ao ronco dos motores do primeiro automóvel, cada veículo trazia consigo não apenas a promessa de novos tempos, mas também o desejo de conectar pessoas, ideias e histórias.
Beco do Urubu

O Beco do Urubu era um trecho da rua Comendador Henrique, anteriormente conhecido como Beco da Lavrinha, que se estendia desde o seu cruzamento com a avenida Dom Aquino (antiga Rua dos Pescadores, mais tarde renomeada Rua Nova) até a avenida Tenente-Coronel Duarte, hoje conhecida como Prainha. Localizado na proximidade do Centro de Cuiabá, esse beco, por ser uma área desabitada e pouco desenvolvida, acabou se tornando um local abandonado e esquecido, onde moradores de regiões vizinhas depositavam lixo e resíduos, criando um cenário propício à proliferação de urubus. Com o tempo, a grande concentração dessas aves carniceiras, atraídas pela abundância de restos de comida e lixo, deu origem ao nome popular de Beco do Urubu. Esse apelido, que refletia a imagem negativa do lugar, acabou se consolidando como uma marca da região. Além da forte presença dos urubus, o local era caracterizado pela precariedade e abandono, o que fez com que ficasse associado, por muito tempo, a uma imagem de degradação urbana. O Beco do Urubu tornou-se, assim, um ícone de um passado negligenciado, refletindo uma Cuiabá de tempos difíceis e um retrato de áreas periféricas que careciam de atenção pública. Photographias é um projeto cultural de pesquisa da central de documentação de dados do Almanaque Cuyabá. A iniciativa visa resgatar imagens históricas da cidade homônima. As ilustrações selecionadas nesta Categoria são, em sua grande maioria, de domínio público; outras, creditadas à fotógrafos, editores, colecionadores, instituições e a plataformas digitais congêneres. (texto adaptado/Cuiabá da tchapa e da cruz/Tenuta, José Augusto).
Beco Cabo Agostinho

O Beco Cabo Agostinho tem início no antigo “Larguinho”, nome atribuído à bifurcação da rua Ricardo Franco com o Beco Torto (atualmente Rua 21 de Abril), seguindo em direção à rua 7 de Setembro. O nome do beco homenageia o Cabo Agostinho, que, conforme relata o livro Ruas de Cuiabá, de Rubens de Mendonça, foi um dos responsáveis pelo serviço de correios entre Cuiabá e a Corte. A informação foi compartilhada pelo professor Ezequiel Pompeu Ribeiro de Siqueira, um renomado intelectual cuiabano, autor da letra do Hino a Cuiabá, composto em 1962. A figura do Cabo Agostinho, inserida na história do serviço postal e na vida cotidiana da cidade, perpetuou-se no nome deste beco, que, ao longo do tempo, tornou-se um marco da memória urbana de Cuiabá. Photographias é um projeto cultural de pesquisa da central de documentação de dados do Almanaque Cuyabá. A iniciativa visa resgatar imagens históricas da cidade homônima. As ilustrações selecionadas nesta Categoria são, em sua grande maioria, de domínio público; outras, creditadas à fotógrafos, editores, colecionadores, instituições e a plataformas digitais congêneres. (texto adaptado/Cuiabá da tchapa e da cruz/Tenuta, José Augusto e Ruas de Cuiaba/Mendonça, Rubens de).
Beco Sujo ou Beco do Cotovelo

O Beco Sujo, também conhecido como Beco do Cotovelo, recebeu oficialmente a denominação de Rua Tufic Affi, por decisão da Câmara Municipal de Cuiabá. Contudo, o novo nome não se popularizou, e a via continua a ser chamada por suas antigas designações, carregadas de história e simbolismo. Este beco singular inspirou o renomado poeta corumbaense Lobivar de Matos, que nele encontrou cenário e emoção para compor seu célebre poema Beco Sujo. Em um dos versos mais marcantes, Lobivar descreve: “O vento está soprando o único lampião que ainda continua aceso”, capturando a atmosfera melancólica e quase fantasmagórica do lugar. Carregando o peso das tradições e das memórias da cidade, o Beco Sujo permanece um marco cultural e poético em Cuiabá, uma testemunha silenciosa das transformações urbanas. Photographia é um projeto cultural de pesquisa da central de documentação de dados do Almanaque Cuyabá. A iniciativa visa resgatar imagens históricas da cidade homônima. As ilustrações selecionadas nesta Categoria são, em sua grande maioria, de domínio público; outras, creditadas à fotógrafos, editores, colecionadores, instituições e a plataformas digitais congêneres.
Beco da Lama: histórias e memórias de um símbolo cuiabano

Localizado no histórico bairro do Porto, o antigo Beco da Lama, hoje oficialmente chamado de Rua Comandante Soído, carrega em seu nome uma narrativa enraizada no cotidiano de Cuiabá. A origem do nome remonta ao período em que, durante a estação chuvosa, o trajeto do beco se transformava em um verdadeiro lamaçal, dificultando a circulação e marcando o imaginário local. Outra explicação para a denominação refere-se à presença de numerosos bordéis de baixo meretrício que ali prosperaram, tornando-se um ponto de encontro para viajantes, seringueiros, garimpeiros e trabalhadores eventuais, que buscavam entretenimento e descanso em meio às suas jornadas. O Beco da Lama tornou-se um símbolo carregado de significados, refletindo as adversidades naturais e os encontros que moldaram a cultura de Cuiabá, preservando as memórias de um passado que ainda enriquece o presente Photographia é um projeto cultural de pesquisa da central de documentação de dados do Almanaque Cuyabá. A iniciativa visa resgatar imagens históricas da cidade homônima. As ilustrações selecionadas nesta Categoria são, em sua grande maioria, de domínio público; outras, creditadas à fotógrafos, editores, colecionadores, instituições e a plataformas digitais congêneres. (texto adaptado/Cuiabá da tchapa e da cruz/Tenuta, José Augusto).
Vera Capilé: Voz do Centro-Oeste e da Amazônia

Vera Capilé, natural de Dourados (MS), cresceu em uma família de músicos da velha guarda, influenciada pela cultura musical das fronteiras do Paraguai e pela rica tradição do rasqueado, siriri, viola de cocho e ganzá. Aos 5 anos, começou sua trajetória musical, iniciando no piano, e aos 11 anos aprendeu a tocar acordeom com Dunga Rodrigues. Após uma pausa na carreira devido ao casamento, retornou aos 45 anos, formando uma banda e lutando pela união dos artistas do Centro-Oeste e da Amazônia com a rede “Nós do Mato”. Em 2004, foi selecionada para o Projeto Pixinguinha, realizando shows em várias regiões do Brasil. No ano seguinte, participou do Ano do Brasil na França e apresentou-se com orquestras renomadas. Cidadã cuiabana, Vera é reconhecida por sua contribuição à cultura e à música, além de desenvolver crônicas sobre preservação ambiental. Compositora e parceira do músico Abel Santos, Vera Capilé celebra a cultura dos Cerrados, Pantanal e Amazônia, unindo influências regionais e universais em seu canto, que inclui desde compositores locais até clássicos como Villa Lobos.
Liu Arruda: O Falar Cuiabano como inspiração

Cuiabá, *30/5/1957 – +24/10/1999 O intérprete de personagens como Comadre Nhara, Juca, Gladstone, Ramona, entre tantos outros, nasceu em 30 de maio de 1957, em Cuiabá. Criado na Rua 24 de Outubro, Elonil de Arruda era o caçula em uma família de 10 irmãos. A paixão pelo teatro começou cedo, ainda na adolescência, quando entrou para um grupo de apresentação do Sesi, denominado “Pequenos Gigantes”. Nos anos 1970 mudou-se para o Rio de Janeiro, onde cursou a Faculdade de Comunicação Social na Universidade Gama Filho. Posteriormente fez sucesso como garoto propaganda do antigo supermercado Trento Junior. Liu também participou das novelas O Campeão, da TV Bandeirantes e A Lenda, da extinta TV Manchete. Também fez uma breve participação na novela da TV Globo, Suave Veneno. Em mais de 25 anos de carreira, sua galeria tem quase 40 personagens e centenas de apresentações teatrais. Seu humor era reconhecido pela valorização do linguajar cuiabano. Além de ter participado em novelas, manteve colunas em jornais e lançou o CD, “Ocê qué vê, escuta”, com catorze faixas, sete músicas e sete piadas. Liu Arruda faleceu no dia 24 de outubro de 1999, com 42 anos.