Caminhando em Cuiabá pelas documentações oficiais e memórias desde o século XVIII, procurando os lugares de “água de beber” com o objetivo de estudá-los e torná-los lugares de memória, não me lembro de ter encontrado nenhuma proposta de recuperação da cabeceira do ribeirão Prainha, por parte dos governos provinciais objetivando principalmente, a sua preservação e, ao mesmo tempo, o oferecimento à população cuiabana de mais um espaço de frescor, sociabilidades e recuperação do meio ambiente.
A imprensa cuiabana, tempos passados, noticiou que havia uma negociação com o Grupo Socorrista de Maria, por parte da prefeitura de Cuiabá, para aquisição de uma área de 1.600 metros quadrados localizada no bairro Consil, nascente do ribeirão Prainha, na capital.
Esse pedaço de área verde é rico pelo valor histórico e ambiental para a cidade de Cuiabá. É um lugar de memória. Uma nascente que necessita da preservação ambiental por se tratar de cabeceira do córrego Prainha. Além de ficar a meia légua do rio Cuiabá e, entre os afluentes (o Coxipó Mirim e o Coxipó Açu), a vila do Cuiabá foi edificada seguindo o arco do córrego depois chamado Prainha, um afluente menor do Cuiabá, hoje centro da cidade de Cuiabá.
O córrego Prainha permitia a entrada de pequenas embarcações até a Praça do Aracaty, atual Ipiranga, ladeada pelo córrego Cruz das Almas, soterrado nas proximidades da Avenida Generoso Ponce, onde às suas margens os homens vendiam os seus pescados à população: (…) o ribeirão Prainha, caudaloso na época, até o mercado abicavam as canoas que subiam o caudal e ali chegavam transportando peixes e o produto das hortaliças cultivadas nas chácaras vicinais do rio Cuiabá para o abastecimento da cidade.
Informações encontradas em relatório de presidente de Província afirmam que: (…) No entanto, as notícias que se tem é que Cuiabá desde o ano de 1780, parte do suprimento de água potável à população era feita através do córrego Prainha. No entanto, esse pequeno veio de água tinha seus problemas de seca no período da estiagem, o que dificultava ainda mais a falta d’água à população.
Na Vila Real do Senhor Bom Jesus de Cuiabá, o córrego Prainha foi protagonista de inúmeros acontecimentos: “diariamente ia com algumas escravas, atravessando o quintal todo revolvido por antigas escavações auríferas dos anos pioneiros de Cuiabá, até o Córrego Prainha, ficando a brincar entre as pedras, nas águas límpidas de lambaris, enquanto as negras lavavam as roupas da casa em longas tábuas de aroeira”.
Esse pequeno córrego que nasce nas proximidades, hoje, do bairro Consil e corre rumo ao rio Cuiabá continua deslizando eternamente, no entanto, soterrado e contaminado, murmurando por entre os esgotos da cidade, perfazendo a sua caminhada na qualidade de mísero contribuinte do rio Cuiabá, que Francisco Mendes relembrou assim:
“Córrego Prainha”, como peregrino deixas de ser nas ferocíssimas paragens da terra (…) oásis de fartura, para constituíres relíquia desprezada, tão cheia de saudade do tempo, em que abrias o leito fértil de promessas e de anseios, de dádivas e de belezas.
Porém, o poeta ficaria feliz se vivo estivesse com a ideia das obras da Copa de reavivar essa relíquia, a sua fonte natural (nascente), pelo menos para chamar à atenção da população, que a água deste pequenino ribeirão soterrado é uma fonte de vida, além da preservação do meio ambiente e da preservação da memória da cidade de Cuiabá, quando das suas escavações para abrir passagem paras as obras do VLT (Veículo Leve sobre Trilho), edificasse ali um marco histórico, em nome da nossa memória.