Dante: Morto, parece maior do que vivo

Em cada página da história do atual Mato Grosso terá sempre um traço que denotará a passagem do líder político. Há, aqui, um divisor de águas. Um antes de Dante de Oliveira e um depois de Dante de Oliveira. Dante comportou-se de maneira distinta …

Dante Martins de Oliveira nasceu em Cuiabá em 06 de fevereiro de 1952. Filho de Sebastião de Oliveira (doutor Paraná) e Maria Benedita Martins de Oliveira. Esposo da deputada federal Thelma Figueiredo de Oliveira e irmão de Bernardo, Yolanda, Armando, Lúcia, Inês e Eneida. Tio de dezenas de sobrinhos. Possuía centenas de primos e milhares de amigos e admiradores. Foi um líder popular da política de Mato Grosso. Teve importância na redemocratização brasileira e o seu maior legado é a sua história.

Engenheiro civil e político brasileiro ficou nacionalmente conhecido pela autoria da proprosta de emenda constitucional nº 5, em 2 de março de 1983, pelas eleições diretas para presidente da República, num movimento que resultou na campanha das “Diretas Já”.

Ainda na Universidade, tornou-se militante do MR – 8 (Movimento Revolucionário Oito de Outubro), quando o referido movimento já havia optado pela via política ao invés da luta armada contra o Regime Militar de 1964, e a seguir ingressou no MDB – Movimento Democrático Brasileiro. De volta a Mato Grosso, seu estado natal, disputou sua primeira eleição em 1976, perdendo a eleição quando postulou ser vereador, pela capital mato-grossense.

Refeito da derrota de 1978 e, agora, com a ajuda da família, Dante foi eleito deputado estadual em 1978, pelo MDB – Movimento Democrático Brasileiro, formando a bancada oposicionista ao governador Frederico Campos (1979-1983), juntamente com Roberto Cruz, Isaias Rezende, Jalves de Laet, João Torres, Márcio Lacerda e Paulo Nogueira e com a extinção do bipartidarismo, filiou-se ao PMDB – Partido do Movimento Democrático Brasileiro -, sendo eleito deputado federal em 1982.

Apresentou a emenda das Diretas em 02 de março de 1984, apoiada pelo deputado Domingos Leonelli, apresentou a bancada, com as bênçãos do deputado Ulysses Guimarães. A idéia de apresentar uma emenda constitucional – que levou seu nome e propunha o restabelecimento da eleição direta para presidente da República – não é uma atitude que se possa creditar exclusivamente a Dante de Oliveira. A idéia de Dante, sobretudo com o cunho jurídico e a redação de Dr. Paraná ganhou assim projeção nacional. Deu a Dante de Oliveira visibilidade nacional, transformando-se em uma das maiores mobilizações populares da história do Brasil, no ano de 1984, apesar do presidente Tancredo Neves  (1910-1985) já prever que o projeto seria rejeitado por pressões dos militares.

Dante que já usara banquinhos de madeira para fazer pequenos comícios na área central de Cuiabá, finalmente conseguiu chegar à Câmara e, ali, ousou querer mudar as regras pré-estabelecidas. Teve a audácia de acreditar que podia. Obstinado, surpreendeu até os mais velhos, passando os dois primeiros meses do seu primeiro mandato colhendo assinaturas para respaldar a sua emenda.

A vitória de Dante de Oliveira como deputado federal se deu justamente um ano após a divisão do estado de Mato Grosso (1978). Em 1985, deixou a Câmara dos Deputados para concorrer pela primeira vez a Prefeitura Municipal de Cuiabá, sendo eleito com 71% dos votos, em 1986.

Assim, após 21 anos de arbítrio, Cuiabá volta a realizar eleições para eleger o seu prefeito. Governou Cuiabá de 01/01/1986 a 28/05/1986 e de 04/06/1987 a 01/01/1989. Foi convocado pelo presidente José Sarney (1985-1990) a assumir o Ministério da Reforma e Desenvolvimento Agrário, cargo que exerceu por um ano, de maio de 1986 a maio de 1987, em Brasília-DF.

Nas eleições de 1990 foi o candidato a deputado federal pela coligação da Frente Popular (PDT, PMDB, PT, PSB, PCB, PC do B) mais votado no Estado de Mato Grosso com 49.889 votos, sendo o oitavo legislador federal mais votado proporcionalmente no País. Acabou não sendo eleito pelo quociente eleitoral, que deveria ser de 90 mil votos, isto é pela somatória dos votos de legenda do partido.

Essa liderança, porém, foi reafirmada em 1992, quando se elegeu prefeito de Cuiabá pelo PDT – Partido Democrático Trabalhista com 72,49% dos votos (01.01.1993 a 03.03.1994), pela segunda vez, proporcionalmente a segunda maior votação das capitais do país.

Assim, a Prefeitura Municipal de Cuiabá o credenciou a concorrer ao Governo do Estado de Mato Grosso, sendo eleito, pela primeira vez, em (1994-1998), pelo PDT, PMDB, PT, PSDB, PV, PC do B, PMN, PSC e outros, em uma frente de dez partidos de esquerda e centro esquerda, com 72,5 dos votos e, em (1998-2002), foi reeleito governador pelo PSDB – Partido da Social Democracia Brasileira, ainda no primeiro turno, com 54% dos votos.

Reeleito sob a tese de “Casa Arrumada”, no segundo mandato cuidou da divulgação de Mato Grosso em perto de 40 seminários “Mato Grosso, Hora de Investir”, realizados no País e no exterior.

Democrata convicto, viciado em liberdade, moldado na luta estudantil e talhado para a vida pública, acalentou o sonho de um Brasil mais justo socialmente. Empunhou bandeiras utópicas sem deixar de hastear o pavilhão da realidade. Dante, às vezes, misturava o homem político que era ao mito que se fez aos olhos da nação.

Implantou a reforma administrativa e transformou Mato Grosso da condição de importador de energia para exportador, com a construção da Usina Termelétrica Mário Covas, de 480 MW, movida a gás natural transportado pelo Gasoduto Bolívia/Mato Grosso.

Discursar fazia parte da sua doutrinação. Nos últimos anos, estava mais amadurecido do que o ex-estudante que se iniciou na política em 1976, candidato derrotado a vereador em Cuiabá. Não criticava mais adversário além do tema político. Mesmo assim, era com cautela. O cabelo levemente branco e a barba histórica aparada embranquecendo, cada vez mais o tornava humanista. O espírito agressivo cedeu lugar a duas qualidades que admirava profundamente nele: a tolerância e a generosidade. Não se queixava das críticas e nem das acusações, porque visionário como era, acreditava em alguma coisa que muitos não enxergavam naquele momento.

Em cada página da história do atual Mato Grosso terá sempre um traço que denotará a passagem do líder político. Há, aqui, um divisor de águas. Um antes de Dante e um depois de Dante. Dante comportou-se de maneira distinta. Presidiu o PSDB – Partido da Social Democracia Brasileira. Conversou, negociou e embrenhou-se pelo mundo das articulações político-eleitorais.

Faleceu em 6 de julho de 2006, em Cuiabá, às 20 horas e 45 minutos, quando Mato Grosso perdeu o seu mais importante “caixeiro viajante”, não no sentido criado por Henry Miller em 1949, quando escreveu um dos maiores sucessos do teatro mundial, mas no sentido que o senso comum deu ao termo. Afinal, ninguém vendeu Mato Grosso tão bem quanto o ex-governador, segundo o jornalista Maurélio Menezes.

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