Valorizando Raízes: É Siriri e Cururu

Não se sabe ao certo a origem do Siriri. Alguns documentos informam que foi introduzido pelos bandeirantes paulistas e portugueses, nos princípios da conquista colonial. Outros indicam traços da cultura africana da região Banto e ainda de indígenas da região.

A origem da palavra “Siriri” é imprecisa. Para uns, vem da palavra “otiriri” que significa extremes do século XVIII em Portugal e, para outros, significa um tipo de formigão com asas (um cupim de asas que se movimenta coreograficamente lembrando o folguedo).

É um folguedo do qual participam homens, mulheres e crianças em roda ou fileiras, formadas por pares que se movimentam ao som da viola de cocho, ganzá, mocho, viola de pinho, sanfona, tamboril. É composto de cantos em versos simples que falam do dia-a-dia e de suas crenças, muitas vezes improvisados pelos tiradores que se aproveitam dos fatos da atualidade para criticar, exaltar ou até mesmo para saudar alguém. É também conhecido como dança mensagem, pois é a pura expressão corporal e coreografia, que procura transmitir respeito e culto à amizade.

Segundo Baptistella (1997), o nome siriri é atribuído a uma formiga voadora. É uma dança típica mato-grossense dançada na região sul de Cuiabá há mais de 200 anos e reflete o multiculturalismo brasileiro formado por índios, negros, portugueses e espanhóis. Surgiu às margens do Rio Coxipó, junto com os povoamentos dos Arraiais do São Gonçalo e da Forquilha. O ritmo marcado por instrumentos de percussão é herança da música africana. Alguns versos são feitos de improviso, outros já estão na memória do povo. Segundo contam os “mestres”, no passado, os versos eram feitos, entre outras coisas, para conquistar mulheres.

O ritmo se apresenta em roda e, ainda hoje, mantém a característica de desafio, em letras que exaltam as belezas naturais da região, como a Chapada dos Guimarães e a fauna do Pantanal, e temas religiosos. “Eu tenho minha viola/pra tocar o siriri/Ai, toca ganzá/Ai, toca tamboril/(Toada de Siriri)”.

Provavelmente, devido ao ritmo e aos movimentos rápidos, ágeis e leves desta dança atribuiu-lhe este nome. Manifesta-se numa coreografia variada; melodias alegres e letras que têm como mote a vida ribeirinha e as tradições religiosas. Os pares dançam batendo palmas e cantando, em ritmo contagiante, harmonizado e marcado pela batida da viola de cocho, do mocho e do ganzá. Ao ritmo forte e rápido da música, os dançarinos parecem não se cansar, dançando por toda a noite. As letras da dança do siriri são alegres e expressam a vida cotidiana, os amores, a natureza e a devoção aos santos, entre outros temas. O coro estridente e às vezes monótono é próprio da música ameríndia, com clara influência da música serena e melodiosa repleta de sentimento religioso dos colonizadores.

O primeiro registro da dança em Mato Grosso foi feito pelo etnólogo Max Schmidt, no livro Estudos de Etnologia Brasileira, em 1900. Schmidt, em suas pesquisas pela região mato-grossense, observou a manifestação no município de Rosário Oeste (MT), que fica a 130 km, ao norte de Cuiabá. Segundo o etnólogo, como os brincantes não dispunham de instrumentos, eles os confeccionavam com materiais rudimentares. Schimdt observa também que “havia muitas variações” na dança e “os movimentos eram cada vez mais rápidos, principalmente ao fim das apresentações”.

Já o Cururu é um folguedo popular, dos mais antigos de Cuiabá, podendo se apresentar como roda de cantoria e dança e é realizado tanto em festas religiosas como profanas. A origem do nome Cururu admite-se que possa ser originada da tribo dos Bororos que desenvolviam uma dança típica chamada Bacururu. É uma dança feita por homens que, em roda, numa sala ou ar livre, cantam ao som de violas de cocho e ganzás, versos em homenagem ao(à) santo(a) festejado(a). /Minha viola chora prima/ E a prima chora bordão/mas óia, eu gosto dela(Toada de Cururu).

Consiste em, no mínimo, dois cantadores, um tocando a viola de cocho e o outro o ganzá ou os dois tocando viola. Mesmo quando o grupo de cururueiros é grande, cantam sempre em duplas. Acompanha a viola de cocho, o ganzá – um instrumento de percussão feito de taquara e trabalhado ainda verde. É percutido com um pedaço de osso ou ferro e o mocho, também conhecido como tamborete ou tamborim, que é um banco de madeira com assento de couro cru, percutido com duas baquetas de madeira.

Com o passar do tempo, o siriri e o cururu foram agregados às festas populares e a religiosidade do povo, tornando-se parte das festas de Santos de várias comunidades. A história do siriri e cururu se confunde com a história do próprio Estado. Nos dias atuais é possível encontrar vários grupos espalhados em todo território do Estado Mato Grosso. O siriri e o cururu transformaram-se com o passar do tempo numa dança presente nos quintais ribeirinhos e de zonas rurais desta região.

Gabriel Novis

Gabriel Novis

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *