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Chico da Viação, o pioneiro das ruas de Cuiabá

No início do século XX, a modernidade chegou a Cuiabá pelas mãos de Antonio Tenuta, que trouxe de São Paulo o primeiro ônibus coberto da cidade. Na direção desse marco histórico, estava Chico, carinhosamente chamado de Chico da Viação, mais do que um motorista, um símbolo do progresso e da convivência comunitária. O ônibus, equipado com poltronas estofadas, oferecia conforto inédito, e seu nome nas laterais, começando com “Viação”, inspirou o apelido de Chico. Conhecido por sua simpatia e traquejo, Chico não apenas conduzia o veículo pelas ruas de terra e desafios do período chuvoso, mas também conectava histórias e pessoas. Cada viagem era uma experiência única, com comerciantes, jovens e idosos compartilhando momentos que faziam do ônibus um verdadeiro ponto de encontro ambulante. Chico, sempre sorridente e atento aos passageiros, era mais que um motorista; era uma figura querida, narrador das histórias que surgiam no trajeto. Sua presença transformava o transporte em um elo de integração para uma Cuiabá em crescimento. Chico da Viação ainda vive na memória da cidade, símbolo de uma era que uniu tradição e modernidade, deixando um legado de serviço, humildade e humanidade.

A lateral da Matriz já abrigou carros de praça

Nos primeiros tempos do transporte coletivo urbano em Cuiabá, os motoristas que desempenhavam a função de taxistas eram conhecidos por conduzir os chamados “carros de praça”. Esses veículos ficavam estacionados em pontos específicos, que, na época, eram escassos e de grande importância. O mais emblemático deles era o “Ponto da Matriz”, localizado na lateral da Igreja Matriz, e que ficou marcado como o primeiro ponto de táxi da cidade. Embora hoje os pontos de táxi se espalhem por diversos cantos da capital, naquela época, a oferta era limitada e esses locais eram verdadeiros marcos da cidade. Eduardo Lucas, o lendário “Coruja”, foi um dos pioneiros entre os condutores de carros de praça em Cuiabá. Desde os dez anos, sua paixão por automóveis era evidente: lavava carros de dia e vendia jornais à noite. Em 1959, concretizou seu sonho ao tornar-se chauffeur, transportando personalidades como Garcia Neto, Frederico Campos, Bento Lobo, Rodrigues Palma, Vicente Emilio Vuolo e até autoridades do governo federal. Com a implosão da Igreja Matriz no final dos anos 60, o “Ponto da Matriz” foi desativado, e o “Ponto do Porto”, próximo ao Bar Lar Carioca, tornou-se o novo centro dos taxistas, seguido pelo “Ponto Santo Antônio”, em frente aos Correios. Coruja relembra emocionado seus colegas de profissão, como Pedro Zeferino de Paula, conhecido pelo Chevrolet com buzina tipo flauta; Ernestino de Sá, motorista do prefeito Leonel Hugney; e Aristides dos Santos, que dirigia para Dom Aquino Correa. Também recorda Ernande, cuja amizade o inspirou a abraçar a profissão. Dirigente do Sindicato dos Taxistas de Cuiabá, fundado em 1943, Coruja foi homenageado ao dar nome ao ponto de táxi número 4 da Praça Rachid Jaudy (antiga Praça Santa Rita). Sua contribuição à história da cidade e ao transporte urbano permanece viva na memória cuiabana.

Itaicy: O legado da primeira usina industrial de MT

A Usina Itaicy, localizada a 40 quilômetros de Cuiabá, em Santo Antônio de Leverger, encontra-se em ruínas, mas preserva a memória de um período áureo do ciclo do açúcar em Mato Grosso. Parte de um complexo de 13 usinas que impulsionaram a economia local entre o final do século XIX e a década de 1950, Itaicy destacou-se como pioneira, sendo o primeiro estabelecimento do estado a contar com energia elétrica e a quarta maior usina de açúcar do Brasil. Seu apogeu, entre 1900 e 1920, incluiu a emissão de moeda própria, usada na região do rio Cuiabá. A usina foi idealizada por Antônio Paes de Barros, o Totó Paes, que iniciou sua construção em 11 de junho de 1896, mobilizando cerca de mil operários. Inaugurada em 1º de setembro de 1897, contou com máquinas importadas da Europa, transportadas em pequenas embarcações. A tecnologia avançada consolidou Totó Paes como precursor da industrialização no estado. Além de produzir açúcar, Itaicy era um marco de modernidade, com energia elétrica, moradias, água encanada, marcenaria, serraria, escola e biblioteca. No entanto, começou a declinar nos anos 1930, desativando suas moendas e encerrando as atividades industriais. Apesar do abandono, sua imponência e a associação a Totó Paes, figura controversa na história estadual, mantiveram Itaicy viva na memória coletiva. Em 1984, foi tombada pelo Patrimônio Histórico Estadual, perpetuando seu legado como símbolo da industrialização e modernidade de Mato Grosso.

A primeira cervejaria e a revolução industrial no Porto

No final do século XIX, Cuiabá vivenciou uma revolução industrial em pequena escala com a fundação de sua primeira cervejaria. O visionário responsável por este marco foi seo Almeida, proprietário da empresa Almeida & Cia, que instalou sua fábrica às margens do rio Cuiabá, no tradicional bairro do Porto. Inaugurada em 1896, a cervejaria de Almeida produzia a icônica Cerveja Rosa, famosa pela qualidade e apresentação única: garrafas protegidas com palha, símbolo do cuidado artesanal. Comercializada a 1$200 (mil e duzentos réis) por garrafa, rapidamente tornou-se um sucesso entre os cuiabanos. Com tecnologia própria para gerar energia elétrica, a fábrica produzia mil litros de cerveja diariamente e fabricava gelo, um verdadeiro luxo à época. No pavimento superior, funcionava uma sala de cinema, transformando o local em um ponto de encontro social, especialmente nos finais de semana. Demonstrando visão empreendedora, a empresa construiu, com recursos próprios, uma ponte de 37 metros sobre o riacho Engole Cobra (Mané Pinto), permitindo a extensão dos trilhos dos bondinhos puxados por burros até a fábrica. Assim, consolidou-se como símbolo de modernidade e inovação, ajudando a transformar o Porto em um dos bairros mais vibrantes de Cuiabá. Características marcantes Ao lado da antiga Cervejaria de seo Almeida, um casarão ainda guarda traços do passado, como o piso de ladrilho hidráulico, o motor gerador de energia, e o tacho utilizado na fermentação da icônica Cerveja Rosa. O local também revela curiosidades históricas, como o primeiro vaso sanitário da cidade e a grade do portão de entrada, forjada com parte dos trilhos dos bondinhos que ligavam o centro ao Porto. O casarão foi residência de seo Gabriel Júlio de Mattos Müller, que ali viveu até falecer, em 2009, aos 84 anos. Em 1930, os irmãos Fenelon Müller e Júlio Strubing Müller, tios de Gabriel, adquiriram a Granja Santa Rita, localizada às margens do rio Cuiabá. Na época, a cervejaria já havia sido desativada, mas o terreno permaneceu como patrimônio da família Müller.

Alunos empurraram cronista em chafariz da praça

A história do “banho” dado em Samuel Gonçalves na Praça Alencastro é um episódio curioso que reflete a efervescência cultural e política de Cuiabá nos anos 1930. Em 1938, o jornal estudantil “A Voz do Norte”, dirigido por Benoni Lima e Francisco Nonato, era um espaço ativo de discussão. Samuel Gonçalves, sob o pseudônimo “Caramurus”, escreveu o artigo “Infelizmente Assim”, que provocou os alunos do Liceu Cuiabano devido às suas críticas ácidas à sociedade local. Em resposta, os estudantes, numa atitude irreverente, cercaram Gonçalves na praça e o jogaram no chafariz, enquanto ele se dirigia a um baile de paletó branco. Sentindo-se desrespeitado, Samuel registrou a ocorrência na polícia. Após a investigação, ficou decidido que, apesar da afronta, o ato não configurava crime. O chefe de Polícia, Antônio Ries Coelho, arquivou o caso, e o “banho” se tornou uma lenda urbana. A Praça Alencastro, palco desse episódio emblemático, permanece como o cenário de um ato que encapsulou o espírito irreverente da juventude da época e a efervescência da crítica social, ao mesmo tempo em que se torna um símbolo das tensões políticas e culturais que definiram aquele momento histórico de Cuiabá.

Carro de Dom Aquino correa, detalhes em notas musicais

No dia 8 de abril de 1919, durante as comemorações do bicentenário de Cuiabá, a cidade se encontrava em efervescência para presenciar a reinauguração da Rua XV de Novembro, uma das mais importantes da capital, e a exibição dos veículos que seriam apresentados ao público durante as festividades. Sob o entusiasmo da população, o grande destaque da carreata inaugural foi um Fiat Turier vermelho, modelo 1912-1920, adquirido pela Casa Comercial Dorsa, que abriu o desfile de veículos. Este automóvel, alugado por Dom Francisco de Aquino Correa, então presidente do Estado, logo se tornou uma das grandes atrações da cidade, cumprindo diversas funções públicas. A carreata seguia com dois carros Ford e três ônibus, além de um Fiat Landau, que mais se assemelhava a um bonde, inaugurando a nova linha de transporte entre Cuiabá e o Porto. O veículo escolhido por Dom Francisco de Aquino Correa se destacava não apenas pela sua elegância e sofisticação, mas também por uma peculiaridade que logo o imortalizaria entre os cuiabanos: sua buzina, que tocava 15 notas musicais. Esse detalhe único conferiu-lhe o carinhoso apelido de “Chico Fita”, uma alusão ao prenome do presidente e à melodia que ressoava pelas ruas da cidade, tornando-se um verdadeiro ícone da época. A buzina, com sua música característica, perpetuou-se como uma das lembranças mais marcantes daquele momento histórico, simbolizando o progresso e a modernidade que começavam a se instalar em Cuiabá.

Primeiro representante do Fusca em Cuiabá

A história do nosso fusquinha, ou melhor, da Volkswagen em Cuiabá, passa pelas mãos dos italianos Ermette Ricci e Mário George Maria Fava (foto com a esposa Lina Giovanina Maria Cavazza). Nascido em Cesalequio di Reno, Fava veio para o Brasil em 1930, aos 23 anos de idade, atendendo ao chamado de seu cunhado, Ermette Ricci, italiano que também trouxe para a cidade Ivo Razzini. Ivo foi fundador do tradicional Bar Internacional, ponto muito frequentado por jornalistas, escritores, poetas, historiadores e advogados. Funcionava na parte térrea do prédio do antigo IAPC, na avenida Getúlio Vargas. Os cunhados, que haviam firmado sociedade com a criação da Ricci & Fava, mais tarde dissolveram o acordo, ficando Mário com a parte térrea do imóvel, onde instalou casa de peças, ferragens, posto de gasolina, de lavagem e pequena oficina para reparos leves. Antes de sua morte em 1959, Ermette, que era Agente Consular da Itália em Cuiabá, transferiu a representação da Volkswagen para Mário que passou a vender os primeiros veículos por aqui, sendo ele o primeiro representante do Fusca na capital do Estado. Sua agência ficava na Travessa Regis Bittencourt, ao lado do antigo DNER. Mário foi grande empreendedor e articulador. Isso lhe rendeu projeção na sociedade cuiabana, ingressando na Maçonaria, no Rotary Club e na Associação Comercial de Mato Grosso, onde ocupou o cargo de presidente. A Volkswagen, que provém do idioma alemão, significa “CARRO DO POVO”, mas partindo de um apelido criado no Brasil ganhou o nome de fusca.

Deodoro da Fonseca: O casamento histórico em Cuiabá

Em 16 de abril de 1860, Cuiabá foi palco de um marcante evento político e social: o casamento do então capitão Manoel Deodoro da Fonseca, que, décadas depois, proclamaria a República em 15 de novembro de 1889, tornando-se o primeiro presidente republicano do Brasil. A união com Mariana Cecília de Souza Meirelles foi celebrada na Paróquia da Sé do Senhor Bom Jesus de Cuiabá, em uma cerimônia que contou com a presença de ilustres personalidades, como o presidente da Província de Mato Grosso, Antônio Pedro de Alencastro, e o bispo diocesano dom José Antônio dos Reis. Natural de Lagoa do Sul (AL), Deodoro tinha 33 anos, enquanto Mariana, nascida em Barra Mansa (RJ), contava 34. Conhecidos carinhosamente como Maneco e Marianinha, o casal se conheceu em 1860, oficializando o romance poucos meses depois. Após o casamento, Deodoro assumiu o posto de ajudante de ordem de Alencastro. Em 1862, mudou-se com a esposa para o Rio de Janeiro, mas a Guerra do Paraguai, em 1864, levou Deodoro e seus sete irmãos ao conflito, enquanto Mariana permaneceu com as cunhadas. O marechal faleceu em 1892 e Mariana em 1905, ambos em Barra Mansa. O jornal Diário de Cuiabá homenageou-a como a “primeiríssima-dama do Brasil”, destacando a importância de sua ligação com Cuiabá em um capítulo tão relevante da história nacional.

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