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Jejé de Oyá, a alma irreverente que encantou Cuiabá

Com estilo extravagante e língua afiada, Jejé de Oyá, nascido José Jacinto Siqueira de Arruda, tornou-se uma das figuras mais emblemáticas de Cuiabá. Nascido em Rosário Oeste, foi acolhido ainda criança por uma tradicional família no bairro da Boa Morte, onde iniciou sua jornada singular. Formado em alfaiataria pela Escola Profissional Salesiana, atual Colégio São Gonçalo, Jejé chegou a flertar com a vida religiosa, mas logo seguiu caminhos que refletiam sua essência inquieta. Negro, pobre e homossexual, enfrentou as discriminações de sua época com altivez, transformando-se em um ícone de resistência. Sua escrita ácida e provocativa, publicada em colunas sociais, expunha as hipocrisias de sua sociedade com um toque de humor e ironia, tornando-o uma voz única no jornalismo local. Jejé era presença constante em bailes populares e festas animadas, onde brilhava como um símbolo de alegria e liberdade. Sua energia carnavalesca e seu espírito livre consolidaram-no como uma lenda viva de Cuiabá, alguém que celebrava a vida desafiando as convenções. Ao despedir-se em 11 de janeiro de 2016, aos 81 anos, Jejé de Oyá deixou um legado inapagável. Não foi apenas uma figura irreverente, mas uma verdadeira força transformadora que moldou a história cultural de Cuiabá. Sua vida, marcada pela celebração da autenticidade e pela coragem de viver à frente de seu tempo, eternizou-o como um ícone de liberdade. Reconhecido como patrono do Colunismo Social, Jejé permanece vivo na memória cuiabana como símbolo de resistência, criatividade e exuberância.

A história dos primórdios da telefonia em Cuiabá

Os serviços telefônicos em Cuiabá tiveram início sob a responsabilidade da Empreza Telephonica Cuyabana, fundada e administrada por João Pedro Dias. Os aparelhos utilizados à época eram feitos de madeira e equipados com fones de “baquelite”, representando a tecnologia disponível no início da telefonia local. Com o crescente interesse da população por essa inovação, o número de assinantes aumentou significativamente, o que levou a companhia a implementar medidas para regular o uso das linhas, priorizando chamadas de emergência. Entre as ações adotadas para organizar o serviço e atender à demanda, destacou-se a criação da primeira lista telefônica da cidade, introduzida em 1959. Já contando com aparelhos automáticos, a lista apresentava números telefônicos de apenas quatro dígitos e organizava os assinantes em ordem alfabética. Curiosamente, o primeiro nome registrado era o de um estabelecimento comercial: A Imperial Bazar, localizado na Rua 13 de Junho, com o número telefônico 2299. A sede da empreza de João Pedro Dias situava-se na Rua 13 de Junho, próxima ao casarão na esquina com a Avenida Isaac Póvoas. Esse mesmo casarão abrigava outro empreendimento de sua propriedade, o estabelecimento comercial A Constança, conhecido por oferecer uma variedade de produtos, consolidando-se como um ponto de referência para a população cuiabana. A chegada da telefonia não apenas transformou a comunicação na cidade, mas também simbolizou o espírito inovador de uma Cuiabá em plena modernização, marcando uma época de progresso e mudanças tecnológicas.

Coroação de D. Pedro I e as linhas telegráficas de Rondon

A notícia da coroação de Dom Pedro I como imperador constitucional e a instituição das cores verde e amarela na bandeira e nas armas nacionais só chegaram a Cuiabá em 8 de março de 1823. O anúncio, transmitido por correio terrestre vindo de Goiás, demorou meses para alcançar a então isolada província de Mato Grosso. A adoção da bandeira imperial em solo mato-grossense só ocorreu após a proclamação oficial de Dom Pedro I como imperador constitucional. A história da comunicação na província deu um passo importante em 1829, com a criação da Administração dos Correios de Mato Grosso. O primeiro administrador, José de Souza Canavarros, foi nomeado, mas apenas tomou posse seis anos depois. Seu salário anual era de 150$000 réis, um montante significativo para a época, destacando a importância crescente da correspondência oficial e privada em uma região tão afastada do centro político do Império. No entanto, foi no final do período imperial que os avanços tecnológicos começaram a transformar a comunicação de maneira mais significativa. Sob a supervisão do coronel Gomes Carneiro, iniciou-se a construção da linha telegráfica que ligava Cuiabá ao Rio Araguaia, na divisa com Goiás. Este marco inaugurou uma nova era de interconexão para Mato Grosso. Com a proclamação da República, os trabalhos de ampliação da rede telegráfica ganharam impulso. Em 1892, com o Distrito Telegráfico de Mato Grosso já estabelecido, as linhas foram estendidas para conectar Cuiabá a importantes localidades como Corumbá, Forte de Coimbra, Poconé e Cáceres. Essa empreitada foi conduzida pelo então coronel Cândido Mariano da Silva Rondon, figura que se tornaria central na modernização das comunicações no Brasil. A partir de 1907, Rondon iniciou um projeto ainda mais audacioso: a ampliação das linhas telegráficas em direção ao coração do Brasil. Sua missão, concluída em 1910, conectou vastas áreas inexploradas, integrando regiões isoladas e levando não apenas comunicação, mas também a presença do Estado a territórios remotos. Esses avanços, que começaram com a chegada tardia de notícias imperiais, culminaram na transformação de Mato Grosso em um elo vital nas redes de comunicação do país. A evolução, marcada por pioneirismo e persistência, é um testemunho da superação das barreiras geográficas e da busca incessante pelo progresso em uma das regiões mais desafiadoras do Brasil.

O Gabinete de Leitura: A origem das letras em Cuiabá

A criação do Gabinete de Leitura, em 1874, marcou o início de uma nova era cultural para Cuiabá. Essa primeira biblioteca pública da cidade, situada em pleno coração da então província de Mato Grosso, reunia um acervo de 779 livros encadernados e 546 brochuras, abrangendo diferentes idiomas e saberes, com destaque para obras em francês, idioma que dominava a literatura, as ciências e a filosofia da época. O Gabinete, mais que um espaço para consulta de livros, tornou-se um símbolo do refinamento cultural e das aspirações intelectuais de uma sociedade em transformação. Seu acervo, criteriosamente selecionado, era acessado por políticos, intelectuais e jovens estudiosos que buscavam no conhecimento um caminho para o progresso local. Entre seus principais patrocinadores estavam proeminentes figuras políticas e culturais de Mato Grosso, como o Barão de Melgaço, um dos grandes articuladores políticos da província, e o padre Ernesto Camilo Barreto, cujas contribuições ao ensino e à cultura foram essenciais para consolidar a biblioteca como um polo de saber. Outros líderes de expressão também desempenharam papéis fundamentais, unindo esforços para fomentar o desenvolvimento cultural de Cuiabá. Por volta de 1882, a relevância do acervo do Gabinete foi ampliada com sua transferência para a biblioteca do Liceu Cuiabano, uma das primeiras instituições públicas de ensino secundário da região. O Liceu, já reconhecido como um centro de excelência educacional, tornou-se o guardião dessa coleção, garantindo sua preservação e ampliando seu acesso a gerações de estudantes e professores. Além de ser um ponto de encontro para a elite intelectual, o Gabinete de Leitura e, posteriormente, a biblioteca do Liceu, desempenharam um papel vital na disseminação de ideias liberais e republicanas que moldariam o futuro da província. As discussões e leituras promovidas nesse espaço foram, muitas vezes, o palco de debates que influenciaram as transformações políticas e sociais da época. O legado do Gabinete de Leitura transcende o tempo, refletindo o esforço de uma sociedade em busca de conhecimento e progresso. Ele permanece como um marco da história cultural de Cuiabá, evidenciando o papel das letras e do saber na construção de uma identidade regional rica e inspiradora.

O Circo Bocute e a magia dos espetáculos em Cuiabá

As artes circenses, com raízes profundas na história da humanidade, alcançaram seu apogeu em diversas civilizações, como as da China, Grécia, Egito e Índia, e consolidaram-se em moldes próximos aos de hoje no Império Romano. Contudo, foi em meados do século XX, especificamente nos anos 1950, que Cuiabá viveu um momento de encantamento singular com a chegada do Circo Bocute, marcando uma era de diversão e nostalgia para a cidade. Armado na antiga Praça Santa Rita, hoje conhecida como Campo D’Ourique, o Circo Bocute transformou o local em um epicentro de magia e entretenimento. Antes usado para as emblemáticas touradas cuiabanas, o espaço agora abrigava números que deslumbravam e uniam a comunidade. No centro das atenções, destacava-se o palhaço Pasta Chuta, cuja hilaridade e carisma encantavam adultos e crianças, arrancando gargalhadas genuínas em tempos de simplicidade. A música também encontrou seu palco no Circo Bocute. A dupla sertaneja “Nhô Pai e Nhô Fio” era presença frequente nos espetáculos, trazendo melodias que tocavam o coração do público cuiabano. Não apenas artistas locais, mas verdadeiras lendas da música nacional passaram pelo circo: Nhô Pai, conhecido por compor clássicos como “Beijinho Doce”, marcou época, tendo também formado parceria com João Salvador Peres, o Tonico da célebre dupla Tonico e Tinoco. O Circo Bocute era mais que um espaço de risos e canções. O espetáculo atingia o ápice com apresentações de ginastas nos trapézios, que desafiavam a gravidade com movimentos elegantes e ousados. Um dos momentos mais esperados era o Globo da Morte, onde motociclistas atravessavam uma esfera metálica em alta velocidade, deixando o público em êxtase. Entre os heróis desse número estava o cuiabano Névio Lotufo, da Motosblim, que se tornou uma lenda local, recebendo aplausos de pé em suas performances memoráveis. O jornalista Paulo Zaviaski, ao relembrar o impacto do Circo Bocute, captou o sentimento de uma época em que o circo era mais que um evento: era uma celebração da arte e da vida, um encontro entre o cotidiano e o extraordinário. O Circo Bocute não apenas trouxe brilho e encantamento para Cuiabá, mas também deixou uma marca duradoura na memória cultural da cidade, revivendo o poder do riso, da música e do espetáculo como elementos que aproximam gerações.

‘Milho torradinho socado, canela açucarada’. Vai um pixé aí?

Nos anos 90, no auge do rasqueado, Moisés Martins compôs a música Pixé, que se tornou um hino das noites cuiabanas. A canção celebra a cultura local, unindo culinária, vocabulário, festas e danças típicas de Cuiabá. A letra descreve de forma poética a paçoquinha, simbolizando as brincadeiras de infância e as tradições da cidade, como os fogos de artifício e os sons das pandogas e buscapés. Com um tom nostálgico, Martins evoca o tempo da infância, especialmente os momentos simples e cheios de alegria vividos no bairro Campo d’Ourique. A música expressa a saudade de um tempo que não volta, mas com a esperança de que, um dia, o autor verá seu neto com a “boca toda suja de pixé”, passando adiante as memórias e a cultura cuiabana. Pixé é, assim, um retrato da identidade de Cuiabá, que atravessa gerações. PIXÉ – Letra Moisés Martins MILHO TORRADINHO SOCADO CANELA AÇUCARADA….. A BRANCA PURA DAQUELA GURIZADA….. DO TEMPO DO CAMPO D”OURIQUE… QUANDO A PANDOGA,O FINCA-FINCA,O BUSCAPE E O TRIQUE TRIQUE PINTAVAM O CEU COM PINGOS DE LUZ….. É TEMPO BOM QUE NÃO VOLTA MAIS SÓ NA LEMBRANÇA DE QUEM FOI MENINO E HOJE É RAPAZ MILHO TORRADO,BEM SOCADINHO…. AI QUE SAUDADE DOS MEUS TEMPOS DE MENINO UM DIA AINDA VEREI …EU TENHO FÉ…. MEU NETO….MEU NETO….COM A BOCA TODA SUJA DE PIXÉ!!!

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