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13 de julho de 2021
Em 1721, o sorocabano Miguel Sutil de Oliveira, ao descobrir uma promissora jazida de ouro nas proximidades de sua roça, entre o Morro da Luz e o Rio Cuiabá, deu início a um marco decisivo para o destino da região. Sua descoberta transformou a paisagem local e foi o catalisador para a transferência do núcleo inicial da cidade de Cuiabá, que até então se localizava na região do Coxipó do Ouro, para o novo território, mais seguro e protegido, que viria a ser denominado Lavras de Sutil. Essa mudança não foi apenas uma questão de localização estratégica, mas um reflexo das necessidades de proteção contra os ataques de tribos nativas, que eram frequentes na região, principalmente em áreas mais expostas.
À medida que o ouro atraía mais pessoas para a região, o novo núcleo urbano começou a se formar, com as primeiras ruas e pontos de encontro surgindo de forma orgânica. A partir da região da Praça da Mandioca — um ponto de convergência vital para o comércio local — a cidade foi se expandindo, com seus limites se estendendo até as imediações da atual Catedral Metropolitana, centro de fervor religioso e das atividades cívicas. Este pequeno núcleo, inicialmente focado nas necessidades imediatas de lavradores e garimpeiros, logo se viu interligado por uma rede de ruas e becos que permitiam a circulação e o escoamento da produção local.
As ruas de Cima, do Meio e de Baixo, que ainda hoje preservam um pouco da configuração original da cidade, representavam a divisão das áreas urbanas conforme a altitude e a proximidade do centro. Entre elas, o Beco do Candeeiro emergiu como o ponto de encontro mais simbólico da cidade, onde lavradores e garimpeiros, com suas roupas sujas de terra e de ouro, se reuniam para trocar informações, mercadorias e histórias. Era ali, no coração da cidade nascente, que se dava a verdadeira vida social e econômica de Cuiabá.
A partir dessa agitação econômica, com a mineração como principal motor, surgiram as primeiras manifestações urbanas, que refletiam uma cidade em constante mutação. Pequenas lojas, tabernas, igrejas e casas começaram a surgir ao longo dessas vias, e o comércio entre as diferentes classes sociais se intensificou. A fé católica, sempre presente no cotidiano, ganhava expressão com a construção das primeiras capelas e o fortalecimento do culto ao Senhor Bom Jesus de Cuiabá, que viria a se tornar o padroeiro da cidade.
Assim, a fundação de Cuiabá, a partir das Lavras de Sutil, não apenas se consolidou como um centro de extração de riquezas, mas também como um ponto de convergência de diferentes culturas e classes sociais. O desenvolvimento urbano e econômico da cidade começou ali, entre o suor dos garimpeiros e as preces dos devotos, em um cenário que mesclava a busca pelo ouro e a criação de uma identidade cultural e religiosa própria. Esses primeiros passos, que marcam o início do crescimento da cidade, são a base sobre a qual Cuiabá se ergueu, com sua história marcada pela busca incessante por recursos, pelo esforço coletivo e pela crença inabalável de sua gente.