No final do século XIX, o fornecimento de carne para os estabelecimentos cuiabanos era realizado de forma rudimentar, refletindo os desafios de uma cidade em desenvolvimento. Antes da existência de um matadouro oficial, a atividade era marcada por práticas artesanais, conduzidas pelos chamados “açougueiros de ponta de rua”, figuras icônicas que desempenhavam um papel essencial no cotidiano da capital mato-grossense.
A formalização desse ofício teve início apenas em 1891, com a inauguração do primeiro matadouro oficial, um marco de progresso liderado pela sociedade Curvo & Irmãos, que unia Sinjão Curvo, Cipriano Curvo e outros familiares. Apesar desse avanço, a comercialização clandestina de carne manteve-se como prática comum, especialmente nos bairros periféricos, onde os próprios açougueiros realizavam o abate dos animais.
O método de abate era simples e direto: o gado era primeiramente laçado e arrastado até uma árvore, local onde era abatido, esfolado e esquartejado. As partes resultantes – especialmente os quartos dianteiros e traseiros – eram transportadas para os açougues em carroças improvisadas, revestidas com folhas verdes, que conferiam um toque rústico e uma proteção básica à mercadoria.
Entre os açougueiros que marcaram época, destacam-se seo Luiz Soares, cujo açougue e curral localizavam-se no bairro Areão; Zé Demétrio, no Lava-Pés; Seo Marcides, na Caridade; Totozinho, no Campo d’Ourique; e seo Generoso Malheiros, que atuava no movimentado bairro do Porto. Esses nomes tornaram-se sinônimos de qualidade e perseverança em um período de transformações urbanas e sociais.
Assim, a história da carne em Cuiabá não é apenas um registro do abastecimento alimentar, mas também um testemunho da engenhosidade e do trabalho árduo de homens que ajudaram a moldar a identidade cultural e econômica da cidade.