Entre os mistérios das matas de Mato Grosso, ecoa uma lenda envolta em medo e curiosidade: a do Troá Troá. Segundo os antigos, há mais de uma forma de descrever essa criatura enigmática. No livro Retratos dos Seres da Noite, de Marlene Kirchesch, o Troá é apresentado como um velho tronco de árvore, coberto por uma textura aveludada e sem galhos, que ganha vida nas madrugadas, arrastando-se pela floresta e produzindo um som arrepiante: “troá, troá, troá”.
Diz-se que, quando um casal de viúvos se casa, após a morte, a mulher pode transformar-se nesse ser espectral. A alma, inquieta por algum motivo, permanece ligada à Terra, vagando pela mata na forma do Troá.
Muitos moradores da região afirmam já ter ouvido os lamentos desse ser nas profundezas da noite, principalmente às sextas-feiras, quando sua presença parece mais intensa. O silêncio que antecede e sucede os seus clamores é descrito como algo que gela a espinha e paralisa até os mais corajosos.
Mas há também outra versão da lenda — uma mais protetora que ameaçadora. Nessa, o Troá é um guardião da floresta. Aparece como um homem baixo, coberto de pelos, sempre com um grande galho nas mãos, usado como arma. Ele surge das sombras para proteger os animais e a mata contra caçadores e malfeitores. Para os que respeitam a natureza, o Troá é invisível. Mas para os que a ameaçam, ele é uma força implacável.
Independentemente da versão, o Troá Troá continua a povoar o imaginário popular, misturando o sobrenatural com os sons noturnos da floresta, onde nunca se sabe o que espreita entre as árvores.